As aves de rapina

Mas, o seu verdadeira potencial económico centra-se nos seus recursos naturais: lítio (esta palavra não vos faz soar campainhas?), urânio, cobre, ouro, chumbo, gás natural e petróleo, para a exploração dos quais, não tem recursos próprios.

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  • 14:11 | Terça-feira, 07 de Setembro de 2021
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“A grande potência imperialista que espalhava o seu ascendente político por todos os estados do Golfo deixara de se interessar pelo emirado desde que se confirmara o facto de o seu subsolo não esconder a mais pequena gota de petróleo (…) estava convencido de que a pobreza de um país era a sua única salvaguarda contra as aves de rapina, armadas ou não, que esperavam apenas a promessa de lucro para partir à sua conquista, para o esquartejar, para o minar…”.

Cossery, A. – Uma Ambição no Deserto, Antígona, 2002.

 


Este excerto ficcional sintetiza em meia dúzia de linhas o fundamento das acções intrusivo-evasivas das grandes potências pelo mundo fora.

O Afeganistão é disso exemplo. Cobiçado pelos Ingleses, pelos EUA, pela Rússia e pela China, do século XIX ao século XXI.

A presença das tropas russas e norte-americanas deixou atrás de si um rasto de ódio, destruição e morte. O Afeganistão, sendo à primeira vista um país pobre, dependente da agricultura e da criação de gado, é, não obstante, o maior produtor planetário de ópio, produzindo 93% dos opiáceos traficados no mercado mundial. O que faz dele plataforma de elevada criminalidade por detrás do narcotráfico, branqueamento de capitais e corrupção.

Mas, o seu verdadeira potencial económico centra-se nos seus recursos naturais: lítio (esta palavra não vos faz soar campainhas?), urânio, cobre, ouro, chumbo, gás natural e petróleo, para a exploração dos quais, não tem recursos próprios.

Um estudo norte-americano concluiu que há por explorar depósitos minerais com um valor aproximado entre 900 mil milhões de US$ e 3 milhões de milhões de US$ (nem sei se é assim que se escreve tal enormidade de número…).

Além disso, o Afeganistão, situado no centro da Ásia, antiga rota da seda, faz fronteira com a China, o Irão, o Paquistão, o Turquemenistão, o Uzbequistão e o Tajiquistão, o que o constitui como eixo geo-estratégico militar relevante.

 

 

Os ingleses tiveram essa noção no século XIX. Brejnev, um século após, em 1979, também ciente de tal facto, tomou a catastrófica atitude de invadir o Afeganistão. Esta decisão revelou-se um dos factores conducentes à queda do império soviético, do qual primeiramente o Afeganistão se aproximou, posteriormente se tentou afastar, sendo depois pelos russos invadido, em retaliação, com essa invasão gerando uma letal guerra civil no país. Seguidamente, o país foi dominado pelos talibãs, acabando por sofrer durante duas décadas a intervenção americana (eufemismo de invasão). Agora, em Agosto de 2021, está de novo nas mãos dos Talibãs…

Enquanto isso, serenamente e à distância, a China espera pacientemente o momento propício de intervir, fazendo-o já, mais ou menos discretamente, através de países vizinhos e próximos como o Paquistão e o Irão, apoiando logística e financeiramente as forças no poder.

Nota breve: Em que diferem os Talibãs do Daesh? Basicamente, aqueles proclamam-se nacionalistas, pretendendo tomar o poder para governar o seu país à sua maneira, estes, extremistas na acção, proclamam-se internacionalistas e têm, entre outros, o objectivo de disseminar planetariamente o islamismo.

 

(Foto DR)

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