Aquilino Ribeiro… “inteligente e irrequieto jornalista”, na escrita de Luz de Almeida

Aquilino Ribeiro, o inteligente e irrequieto jornalista que logo abraçou as modernas teorias dos mais avançados filósofos, depressa entrou em contacto, chegado a Lisboa, com os rapazes que, nessa época, reuniam no Café Gêlo e trabalhavam para o advento da República.

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  • 20:12 | Segunda-feira, 31 de Agosto de 2020
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Há uma interessante obra um pouco caída na destrato ou ignorância de muitos historiadores, em dois volumes, com edição monumental e direcção de Luís de Montalvor, intitulada “História do Regimen Republicano em Portugal”.

O volume I data de 1930 e o II de 1932. São ilustrados com vinhetas e aberturas de Cotinelli Telmo e têm a edição da Empresa Editorial Atica.

Nela escrevem Jaime Cortesão, Agostinho Fortes, Joaquim de Carvalho, Francisco Reis Santos, Manuel Maria Coelho, Lopes de Oliveira, Luz de Almeida e Bourbon de Meneses.


É no vol. II que trata “A Obra da Propaganda Republicana” e “Da Ditadura à Revolução”, mais concretamente no ensaio de Luz de Almeida *, intitulado “A obra revolucionária da propaganda – As sociedades secretas” que, a páginas 230 e 231 é citado Aquilino Ribeiro, nestes termos e em discurso de 1ª pessoa, de Luz de Almeida:

“Não afrouxava, porém, o fervor revolucionário. Antes pelo contrário, aumentava, dia a dia, numa ânsia de libertação, o número de dedicados servidores do novo ideal. Assim, o dr. Gonçalves Lopes, médico distinto, procurou-me uma noite no Café Gêlo, para me comunicar que ia proceder à experiência dumas laranjinhas que tinham estado enterradas num certo quintal e, ainda, de umas outras, por ele próprio manipuladas. Poucos dias depois deu-se a terrível catástrofe da Rua do Carrião, que vitimou o dr. Gonçalves Lopes e Belmonte de Lemos, salvando-se milagrosamente, por ter ficado fora da zona perigosa, o jovem jornalista, e actualmente ** um dos nossos melhores escritores, Aquilino Ribeiro, a quem havia pedido a cedência do seu quarto, para o dr. Gonçalves Lopes fazer dele o seu laboratório químico. Aquilino Ribeiro, o inteligente e irrequieto jornalista que logo abraçou as modernas teorias dos mais avançados filósofos, depressa entrou em contacto, chegado a Lisboa, com os rapazes que, nessa época, reuniam no Café Gêlo e trabalhavam para o advento da República. Exuberante de mocidade, talento e audácia, em breve conquistou um lugar de colaborado no jornal A Vanguarda, de Magalhães de Lima. Admitido na Maç… foi enfileirar-se ao lado dos jovens mações que pertenciam à L… da Montanha. Em Paris, onde esteve emigrado alguns anos, matriculou-se na Universidade. Tempos depois, veio a ocupar um dos primeiros lugares entre os mais eminentes escritores portugueses. Aquilino Ribeiro pertencia ao grupo que deveria atacar o quartel dos Lóios, e que era chefiado por Alfredo Luís da Costa. “ ***

Este breve texto, da pena de um dos mais poderosos carbonários lusitanos, vem apenas confirmar o muito que já foi escrito acerca do fervor revolucionário de Aquilino, mas também, de forma inquestionável, vem evidenciar o seu activismo político e deixar-nos perceber ainda que e à época, Aquilino já era considerado um “inteligente e irrequieto jornalista”.

E sobre um jovem jornalista nunca em seu antropónimo nomeado, muita tinta correu acerca do Regicídio. Mas sobre a matéria oportunamente escreveremos.

Uma curiosidade, o “passaporte” de que Aquilino é portador e que apresenta à maçonaria francesa, em Paris, é assinado pelo Grão-Mestre Magalhães Lima, e estranhamente datado de 31 de Dezembro de 1907. Ora se o Regicídio só ocorreu a 1 de Fevereiro de 1908…

 

*Fundador da Maçonaria Académica e da Carbonária Portuguesa, grão- mestre da Alta Venda

**1932

***Um dos regicidas, juntamente com Manuel Buíça, compadre de Aquilino, e outros.

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