Aquilino e Mário Bernardes Pereira

Porque não promover agora essoutras “Conversas Inacabadas”, desta feita entre Aquilino e Mário Bernardes Pereira, na Régua e em Sernancelhe, com a presença de seus netos, Aquilino Machado e José Manuel Lello?

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  • 13:30 | Domingo, 06 de Junho de 2021
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“A Quimera das Sete Vacas Gordas” Bertrand, Set. de 1944, obra notável, traz um interessante prefácio de Aquilino Ribeiro.

O seu autor, Mário Bernardes Pereira, médico-cirurgião, era originário da Régua, onde nasceu em 1897, tendo vivido e exercido no Porto.

 


 

Tive o subido gosto de conversar, há poucos dias, com seu neto, José Manuel Lello (Livraria Lello, a mais bonita do mundo…) que me referiu ter sido este prefácio escrito devido à semelhante temática tratada também por Aquilino em “Volfrâmio” (1944) – o oiro negro – e para dissipar quaisquer eventuais dúvidas de plágio pelo coetâneo surgimento. O que de facto se confirma pela leitura do prefácio por Aquilino lavrado no frontispício desta obra.

A publicação é de 1944, da Bertrand, também a editora de Aquilino e a intriga gira em torno da saga do volfrâmio, na região de Trás os Montes.

 

 

Aquilino inicia assim o prefácio:

“É à laia de capataz que apresento o campo literário da mineração a Mário Bernardes Pereira como artífice de primeira ordem e engenho do melhor quilate. Vem-me tal prerrogativa da circunstância de ter publicado já há meses Volfrâmio, anedota ou romance, como queiram, duma actividade que empolgou as terrinhas bíblicas do Norte pelo resgate que que prometia à sua miséria milenar. Além de notável clínico, doublé de nobilíssimo carácter, não precisa que lhe abonem os créditos de pena ágil e extremada quem deu a lume obra de tanto relevo como Escravidão. Portanto, do prazo-dado deste livro pouco mais haverá que inferir além da amenidade da parte de Bernardes Pereira e, de minha parte, páreas à sua bizarria.

Todavia, posto que agitando almas dessemelhantes, dessemelhantes embora criadas sob o mesmo signo, cumpre-me dizer que a Quimera das 7 vacas gordas estava já apta a entrar no prelo e ainda Volfrâmio rolava na máquina de escrever. Ressai da simples leitura que um ignorou o outro. Onde há analogias, busque-se a sua causa no facto de ambos se defrontarem a interpretar o mesmo fenómeno.”

(…) e assim acaba:

“Daqui a meia dúzia de anos não sobreviverão vestígios da aventura, absorvida a riqueza remanescente no tesouro público, as meninas dos volframistas tornadas viscondessas ou comissárias do povo, consoante a viragem, os varonetes feitos bacharéis, banqueiros, ilustres professores, muitos deles pais, segundo a fatalidade cíclica, de parasitas, estroinas e topa-a-tudos dum mundo cada vez mais Jardim Zoológico. Ficará a Quimera das Sete Vaca Gordas a atestar que uma vez correu o Nilo nos contrafortes do Marão.”

Provavelmente, seria este o tempo certo da autarquia da Régua prestar a justíssima homenagem a este filho da terra, reeditando a sua obra (do mesmo autor “Escravidão”, Porto, 1942) e promovendo sobre o autor e a obra colóquio no Museu do Douro…

A revista literária “aquilino”, por minha mão, homenageou-o singelamente no seu número 4.

Aqui há um par de anos, em Gouveia, com a colaboração do autarca local, Luís Tadeu e com a colaboração de Paula Branco, promovemos as “Conversas Inacabadas”, palestras em torno de Aquilino Ribeiro e Abel Manta, com a presença dos seus netos, Aquilino Machado e Isabel Manta.

Porque não promover agora essoutras “Conversas Inacabadas”, desta feita entre Aquilino e Mário Bernardes Pereira, na Régua e em Sernancelhe, com a presença de seus netos, Aquilino Machado e José Manuel Lello?

Hoje, as autarquias têm olhos atentos virados para o seu património literário. José Manuel Gonçalves e Carlos Silva Santiago, autarcas da Régua e de Sernancelhe, têm disso dado sobejas provas. Aqui lhes deixo mais este desafio…

 

Nota: A expressiva imagem de capa é da autoria de Aram Stephan, que creio ter sido um pintor arménio refugiado em Portugal, no decurso da IIª G.G.

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