… e provavelmente, também, na presunção E como ninguém o gaba, numa altura em que os viseenses gostariam de saber o que andou a Polícia Judiciária a “buscar” na Câmara Municipal de Viseu e nalguns outros locais da cidade, vem-nos rejubilante, prenhe d’ufania, gabar a nossa cidade.
E faz muito bem. Tomáramos nós todos fazer com ele uníssono coro. Porém, não é por uma mentira ser várias repetidas que se transforma em verdade, não é por desejo e prestidigitação que Viseu se torna “um concelho mais saudável, com mais segurança e melhor qualidade de vida.”
E todavia, o próprio alerta, “não sou fervoroso adepto de rankings ou estudos de opinião. Umas vezes, simplesmente, por não serem credíveis; outras vezes por constituírem análises parciais, sem o carácter suficientemente conclusivo que os títulos das notícias parecem sugerir.”
O Compadre Zacarias não diria melhor e decerto assinaria por baixo. E isto a propósito de mais um daqueles inquéritos feito por uma associação de consumidores que, segundo o edil, “para meu orgulho e felicidade”, constatou ser Viseu a melhor cidade para viver.
Céptico, o Compadre logo pergunta se esses inquiridos cá moram e se esse inquérito foi muito caro? Mas isso, conhecendo-o bem, logo lhe tirámos o desconto ao proferido…
A chave de oiro da bela croniqueta, de estimado plumitivo colega, tudo diz: “por muito que alguns se recusem a perceber, o país não é Lisboa e o resto paisagem.”
E eu que detesto Lisboa e nunca por lá andei anos a fio nos esconsos corredores do poder (quatro anos na FLUL bastaram-me, e a ir e vir…), não poderia estar mais de acordo com esta original e inovadora asserção, sempre que olho o Centro Histórico em (re)evolução; as lojas desoladoramente encerradas na Rua Direita; o lixo por remover nas adjacências do Rossio; os jovens sem emprego a migrar para outras cidades e algumas bem próximas; as festarolas báquicas erigidas a Cultura das massas; as promessas incumpridas ou a cumprir – sejamos optimistas – num futuro a definir; as centenas de empregos criados, de tão invisíveis, passados desapercebidos aos desempregados; os festivais da tontaria a granel comanditada pelo inefável Sobrado, o mágico de todas as ilusões que veio salvar Viseu do iminente naufrágio; os “inconseguimentos” de tão sistemáticos já tornados crónicos, etc. e tal … tudo nesta cidade é “inovador, diverso e multidisciplinar”.
E porque não, caro autarca, a leitura de férias de “Ensaio sobre a cegueira”, do nosso Nobel Saramago?
E já agora, se me permite, reflicta sobre esta frase do grande escritor e acerca do conteúdo das suas “conjectâneas epistolares” de terça-feira:
“Somos todos escritores. Só que uns escrevem, outros não.”