Por mais que o jogo de cintura permita flexibilidade argumentativa e que a solidariedade corporativa estenda suas teias, Coelho viu-se moralmente ferido de morte.
O primeiro-ministro que mais tem desenvolvido e implementado instrumentos de caça fiscal, afinal talvez tenha telhados de vidro muito fininho e fugas ao fisco.
O primeiro-ministro que mais sacrifícios exigiu aos portugueses, afinal parece não ser exemplar nessa matéria, muito pelo contrário.
O primeiro-ministro que mais destruiu conquistas sociais objecto de luta de muitos anos, afinal aparenta ser um “jeitosinho” a viver de expedientes duvidosos.
O que resta agora, quando até documentos fundamentais do processo desapareceram de um momento para o outro, de molde a não poderem espraiar a clara luz sobre toda esta sombria opacidade?
Um político “apoucado”, debilitado, fragilizado, acusado de acções pouco edificantes e, este ponto é fundamental, de usar pesos e medidas diferentes, quando se trata do povo português ou quando se trata de si próprio.
Ou seja, com a moral irreversivelmente desbaratada…
Por mais que se esgaravate nesta matéria e que se prestidigite o óbvio, temos um “rei que vai nu” julgando-se adornado das impolutas vestes da rectidão, do ceptro da integridade, da coroa da seriedade e do arminho da verdade.
Aconteça o que acontecer, depois desta semana, quando alguém olhar Passos Coelho, primeiro do que ver um primeiro-ministro, verá um desnudado funcionário das tecnoformas deste país.