A pandemia da corrupção

Ex-ministros, ex-secretários de estado e demais políticos de topo estão ligados ao mundo empresarial, bancário... ou como facilitadores, ou como consultores (eufemismo que dá para tudo). Quase todos, comendadores agraciados pela Nação agradecida. Muitos deles protagonistas dos casos mais polémicas que por aí bradam aos céus.

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  • 12:51 | Quarta-feira, 08 de Julho de 2020
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Em definitivo, Portugal tem mais corrupção que o desejável, sejam dela amplos indícios ou factos comprovados

Raro é o dia em que não seja trazido ao conhecimento público mais um escândalo envolvendo figuras públicas, do mundo empresarial, da banca e outras tendo como epicentro irradiador figuras políticas.

O ex-candidato à presidência da república, Paulo Morais, todos os dias denuncia estranhos casos, nomeadamente de deputados à Assembleia da República que estão em comissões parlamentares com poder decisório sobre empresas às quais estão externamente ligados em acumulação.


Por isso, a imperiosidade da lei das incompatibilidades que tanto tarda a ser aprovada. Ninguém acreditando que os deputados a serem abrangidos por essa necessária lei iriam votar a seu favor. Seria “incompatível” com o mundo tenebrosos de ligações que alguns deles têm…

Atitudes destas também provam à saciedade que grande parte deles são deputados da Nação, não para servir a Nação, não para servir os territórios que os elegeram, mas para servirem as empresas, os escritórios, os consultórios et all a que devem, em primeiro lugar, a quase absoluta reverência.

Ex-ministros, ex-secretários de estado e demais políticos de topo estão ligados ao mundo empresarial, bancário, financeiro… ou como facilitadores, ou como consultores (eufemismo que dá para tudo). Quase todos, comendadores agraciados pela Nação agradecida. Muitos deles, protagonistas dos casos mais polémicas que por aí bradam aos céus.

O processo que envolve a EDP, António Mexia, Manuel Pinho, João Manso Neto… é um study case no qual o MP estimou que os benefícios ilegais e indevidos concedidos pelo ministério da Economia à EDP têm um valor estimativo de mais de mil milhões de euros.

Lembremos que António Mexia foi Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações do XVI Governo Constitucional, com o primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, de onde saiu para assumir a presidência do conselho de administração da EDP, em 2006.

Recordemos que Manuel Pinho foi ministro da Economia e da Inovação, de 2005 a 2009, no XVII Governo Constitucional presidido por José Sócrates.

Segundo o MP, mal Manuel Pinho assumiu o ministério da Economia, logo se terá reunido com Mexia para “providenciar” a nomeação deste para a presidência da EDP, tendo como contrapartida o apoio da EDP, profissional e academicamente, após a sua saída do governo.

Falar em credibilidade da classe política, após as sucessivas enxurradas de controversos casos, é um pouco como apodar de imaculadas e virtuosas as prostitutas do Cais do Sodré e do Príncipe Real… O mais grave sendo que a mesma classe política foge como o diabo da cruz de legislar no sentido da transparência, da inequivocidade comportamental, das incompatibilidades, da promiscuidade…

Alguns até podem ser sérios, naturalmente, mas porque uns tantos não o serão, um quarteirão de árvores faz a frondosa floresta.

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