A Inglaterra de Boris e do brexit por ele tão acerrimamente defendido está um caos.
A ultra direita conservadora britânica, a rogo de inconfessáveis interesses económicos, fez o que lhe competia: dividiu o país na facção pró e contra a saída do Reino Unido da União Europeia e quebrou a hegemonia desde 1973 criada, data da sua tardia adesão.
Com pontas de lança activíssimos no terreno como Nigel Farage (que será dele feito após conseguir os intentos encomendados?), Boris Johnson deu o empurrão final. A “Barata”, como o intitulou sub-repticiamente Ian McEwan no seu romance com esse título, no seu ar desajeitado e apalermado tão ao jeito british Balliol College, este inglês de Nova Iorque (Upper East Side), foi altamente controverso e ineficiente no combate eficaz à Covid 19, no bom estilo de outros apóstolos da mesma raça, Trump e Bolsonaro, por exemplo, e está a colher os resultados altamente negativos desse descalabro.
Mas está também a colher o fruto de uma saída extemporânea da EU, sem para ela ter o país preparado. Sem ter um plano de acção aceitável e digno. Sem acautelar os interesses de milhões de ingleses e de estrangeiros residentes no Reino Unido que se veem a braços com um país congestionado pela pandemia, pela incerteza e receio quotidianos, pela xenofobia, pelas fronteiras entupidas, pela deficiente circulação de pessoas e bens e pela opacidade política em que se pretende manter, reclamando e não querendo abdicar de direitos, mas prescindindo dos deveres inerentes ao seu tão adorado brexit.
Aparentemente, porque hoje, mais do que nunca, a alta política tem a insondável profundidade da Fossa das Marianas.*
*Lugar mais profundo do mundo, no Oceano Índico, com 10 984 metros de profundidade.
(Foto e caricatura DR)