A História explica-nos muita coisa. Todavia, é bom lembrar que História estudávamos, ou melhor, que histórias nos foram impingidas. Sim, que a propaganda de um regime, é também feita, de forma insidiosa e tortuosa, a partir dos bancos de escola.
O conceito de História que Fernão Lopes, um pioneiro avant-gardiste (1385/1460) da verdade factual rigorosa, foi adulterado, edulcorado, pintado com as cores dos vários regimes que se sucederam.
Basta pensarmos nas grandes petas, como por exemplo, no farwest USA, nos índios, apresentados como selvagens bestializados e nos cowboys missionários da paz e de todos os ideais de justa supremacia. Os filmes venderam bem esse conceito…
Aquilino Ribeiro, sempre controverso, quando escreveu “Príncipes de Portugal Suas Grandezas e Misérias” (1952), foi criticado por todo o “establishment” lusitano e alvo de censura e de perseguições pelos esbirros do regime. Porquê? Porque ousou repor algumas verdades históricas escondidas e adaptadas ao serôdio moralismo e bafiento ideário de então.
Em 1932, Hitler conjugava todas as suas forças para conquistar o poder. Jogou com a humilhação alemã assinada e consignada no Acordo de Versalhes, jogou com o espectro comunista e social-democrata que, com os seus ideais socialistas e exageros russos faziam o pavor de uma grande franja da sociedade alemã, jogou com a marcha triunfal de Mussolini sobre Roma, jogou com o ressentimento e a agressividade, assim como com a necessidade de segurança e redenção. Apurou ao limite a ideia de uma “guerra civil vermelha”.
Afinou a propaganda pelas mãos de Goebbels. Criou imagens estereotipadas dos “inimigos”, os “manda-chuvas vermelhos”, ou os “judeus manipuladores”, ou os “ratos assassinos vermelhos”. Usou cartazes, símbolos e bandeiras marciais apelativas e estimulantes. Fez discursos estentóricos e apocalípticos por toda a Alemanha. Centrou a sua mira na grave crise social, política e económica. Erigiu os nazis a uma coligação díspare de descontentes, tornando-os num partido nacionalista de protesto social.
Com os seus “camisas-castanhas” e os “capacetes de ferro” gerou a agitação e a violência nas ruas.
Quando Hidenburg obrigou à demissão de Schleiser, no dia 30 de Janeiro de 1933, Hitler tomou posse como Chanceler do Reich, exigindo, no momento e de imediato duas instituições importantes: o Ministério do Interior e a Chancelaria do Reich, podendo assim manipular a esfera da lei e da ordem em benefício próprio. Göring, na Prússia, enquanto grande chefe das polícias, ganhou um poder imenso.
Em 1933, contornadas as chefias divididas do exército e chamando a si as políticas militares, com promessas de restaurar o recrutamento, destruir o marxismo e combater o Acordo de Versalhes, acrescidas da projectada invasão e germanização da Europa do Leste, conquistou a neutralidade dos militares.
Passaram os anos. Demasiado tempo para a memória humana? O reinado de Hitler durou até Setembro de 1945. Pouco mais de uma década, mas povoada de milhões de mortos e da destruição de grande parte da Europa. Acabou suicidando-se com cianeto no seu bunker e com o seu corpo e o de sua mulher Eva Braun regados e queimados com gasolina.
Em Itália, o líder do fascismo, Benito Mussolini, a 28 de Abril de 1945 é abatido pelos partisans quando tentava fugir com a sua amante de momento, Clarette Petacci, perto de fronteira com a Suíça. Os seus corpos foram levados para Milão onde ficaram expostos na Piazzale Loreto, desfigurados e pendurados pelos pés.
Isto foi há 76 anos. O tempo de vida médio de um ser humano. Qual o tempo da desmemória?