A ficção de Almeida Henriques

Ao longo das suas 19 páginas desfilam as grandes obras do regime. As intenções repentinas para um futuro próximo, muito próximo, pois as eleições autárquicas serão em Outubro de 2021.

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    • 18:40 | Terça-feira, 23 de Junho de 2020
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    Chegaram-me às mãos os preciosos documentos que o nosso prezado autarca, António Almeida Henriques, vai apresentar na próxima Assembleia Municipal de Viseu.

    O primeiro e único sobre o qual me vou debruçar – a parte contabilística ficará a cargo de um especialista na matéria – denomina-se “Informação do Presidente da Câmara Municipal de Viseu à Assembleia Municipal – 26 de Junho de 2020”.

    É um documento fantástico, extraordinário, bem concebido, consistente, com excelente arquitectura narrativa… enfim, dava para um opúsculo de propaganda ficcional.


    Ao longo das suas 19 páginas desfilam as grandes obras do regime. As intenções repentinas para um futuro próximo, muito próximo, pois as eleições autárquicas serão em Outubro de 2021.

    Ao ler este bonito caderno de encargos, ou melhor, este florilégio de intenções, um munícipe sente orgulho no seu autarca. A exaltação toma-o e quase um desvairo o alucina. Sim, este é O Autarca, homem bom, lutador, empenhado, sério, digno, atento, cuidoso, com um espírito de missão inusitado, com os olhos postos na linha do infinito.

    Mas… Há sempre um mas, de súbito despertamos do bom sonho em que nos embalávamos e constatamos estar, uma vez mais, perante uma criativa e sugestiva peça da melhor neo ficção, só igualada pelas “Aventuras de Sandokan, o Tigre da Malásia”, de Emílio Salgari ou “As 20 mil léguas submarinas”, de Júlio Verne.

    Parabéns ao redactor/autor do documento. A fecunda imaginação de que dá provas merece-lhe um lugar de destaque no próximo festival literário tinto no branco…

    E os deputados da Assembleia Municipal conseguirão ler contendo o riso?

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