“Estima-se que a corrupção custe, por ano, o dobro do que gastamos em Educação – 18 mil milhões de euros. E isso acontece e acontecerá porque nenhuma lei é capaz de alterar a natureza dos bandidos cuja soberba se respalda na cultura instalada.” (…) “ao darmos poder negocial aos criminosos, |delação premiada| pervertemos a própria ideia de justiça, mas sobretudo porque, seguindo essa lógica, acabamos por não retirar da equação as criaturas nefastas que, a cada novo ciclo democrático, aprimoram as técnicas de procriação no morno regaço do Estado, fundindo política e negócios com uma desfaçatez que a inércia tem ajudado a normalizar.”
Pedro Ivo Carvalho, Director-adjunto do JN – 11/12/2019
“E por isso, aprendi a viver com os políticos: vendem-nos, na busca do nosso voto, programas que já sabem que não vão cumprir, mentem-nos com toda a verdade que sabem imprimir a um discurso em que, no fundo, nenhum de nós – a começar por eles – acredita. É o teatro da verdade.”
Francisco Seixas da Costa – Embaixador – JN 11/12/2019
“123 mil euros foi o valor facturado pela empresa QI Consultadoria, gerida pela mulher de Almeida Henriques, a José Agostinho Simões.”
“2,8 milhões de euros foi o valor que José Agostinho Simões terá recebido como incentivos de fundos europeus do QREN.”
“Rui Moreira – O actual presidente da Câmara do Porto recebeu um telefonema de Almeida Henriques para que este recebesse o empresário Agostinho Simões. Rui Moreira recebeu-o, mas nunca chegou a fazer negócios. Quando ouvido como testemunha na PJ, denunciou o telefonema de Almeida Henriques.”
Estes e outros excertos foram tirados (com a devida vénia) do JN de hoje.
A partir da saída destas notícias, o rastilho ardeu célere e, desde o Expresso ao Público, ao Observador, à Sábado passando pelos diversos canais televisivos, espalhou-se como uma incendiária virose.
Embrulhado em contradições, indignado e estupefacto, Almeida Henriques, que nem conhecia o “Tomi boss”, é suspeito, pelo noticiado, de seu “facilitador de negócios”.
Provavelmente vai a procissão no adro. Para já, este karma que se tem vindo a abater sobre algumas autarquias laranja (Guarda – Álvaro Amaro; Tondela – José Jesus, etc.), está a dar-nos uma visão muito negativa do que se passa nalguns municípios próximos. Fazemos votos de que não alastre, para bem do Poder Local que tem honrados autarcas a fazer jus ao aforismo: Uma árvore não faz a floresta… mas, se continuarem a aparecer árvores destas a este ritmo, a floresta corre riscos de ficar contaminada.
De Almeida Henriques se aguarda a explicação de todo este rodilheiro novelo. A não haver e se um silêncio anuente persistir, bom era que se afastasse da CMV – temporária ou permanentemente – a fim de preservar o maltratado bom nome do maior concelho do distrito de Viseu.
Bom sendo ainda que, de uma vez por todas, se pusesse fim ao “teatro da verdade”, nas acertadas palavras do embaixador Seixas da Costa.
Paulo Neto