VISEU . RURALIDADES – LAVADEIRAS DO PAVIA – “IN MEMORIAM”

   (Textos ilustrativos de um antigo viver rural nas margens de Viseu ilustrados com imagens de Arquivo de Foto Germano) 24 – LAVADEIRAS DO PAVIA – “IN MEMORIAM”                              O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.                                         Quem está ao pé dele está só ao pé dele.                                                                                      Alberto […]

  • 15:55 | Segunda-feira, 22 de Setembro de 2014
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 (Textos ilustrativos de um antigo viver rural nas margens de Viseu ilustrados com imagens de Arquivo de Foto Germano)

24 – LAVADEIRAS DO PAVIA – “IN MEMORIAM”


                             O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.

                                        Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

                                                                                     Alberto Caeiro

 

Chama-se Pavia o rio desta cidade onde eu habito.

Desço muitas vezes à margem deste rio. Desço apenas para reinventar memórias que não tenho e me contam, ao pé do rio, às vezes são estas mulheres que lavam, quem mas conta, suspensas um pouco do bater no lavadouro, suspensas na canção, suspensas do tempo que mediou entre o seu gesto e o eco que dele agora tenho, fico-me a ouvir a água da corrente, o riscar de um caminho na areia molhada onde brinca uma criança.

Lembro-me de minha mãe, vai tempo, do riozinho que corria na Quinta do Valbom com pontezinhas de tábuas levantadas por meu pai ou essas alpoldras ligeiras de lanchas fincadas na fundura breve do seu leito.

Lembro-me das manhãs de Verão da minha infância, de minha mãe ajoelhada na pedra do lavadoiro que eu devia ter guardado e não guardei, lembro-me da roupa a corar nas ervagens da margem do ribeiro, lembro-me desse descuidado tempo de paraíso, do vermelho das cerejas, dos morangos silvestres que cresciam lá ao pé, dos buraquinhos dos grilos, das libélulas, do cantar das rolas no pinheiral vizinho, da límpida água do ribeiro onde eu bebia ajoelhado, do olhinho vivo das rãs e desse crescer dos filhos delas, “peixinhos” gordos, os “girinos”, que eu aprendi a chamar, amorosamente, de “cabeçudos” e que via crescer sem dar conta que crescia como eles, só mais devagar.

E o Mondego, que andava comigo. O meu cão com nome de rio.

Ah!… As memórias que me trouxeram as lavadeiras do Pavia!…

 

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