VAI-SE VIVENDO!…
Um episódico retorno aos clássicos e assim abro a minha crónica com uma pequena citação da comédia / farsa ” Persa” de Plauto, um comediógrafo romano falecido em 184 a. C., que habitualmente escolhe como personagens da sua abundante produção gente comum, tantas vezes escravos, como ilustra o seguinte fragmento: Tóxilo (escravo): Viva, Sagaristião! […]
Um episódico retorno aos clássicos e assim abro a minha crónica com uma pequena citação da comédia / farsa ” Persa” de Plauto, um comediógrafo romano falecido em 184 a. C., que habitualmente escolhe como personagens da sua abundante produção gente comum, tantas vezes escravos, como ilustra o seguinte fragmento:
Tóxilo (escravo):
Viva, Sagaristião! Que os deuses te ajudem!
Sagaristião (escravo):
E que te concedam o que desejas, Tóxilo! Como tens passado?
Tóxilo:
Como posso…
Sagaristião:
Que se passa?
Tóxilo:
Vai-se vivendo…
Mais de dois mil anos passaram sobre a construção deste discurso e os nossos dias, os dias de tantos como nós, assemelham-se, parece, aos inquietos dias do escravo Tóxilo que se encontrava sem dinheiro para concretizar um sonho (podia ser a compra da liberdade), ao caso era o seu sonho de amor, a compra de uma escrava, bateu a muita porta e nenhuma se lhe abriu. Habilidoso, valeu-se de um embuste, e lá conseguiu o seu intento.
Parece retrato de nossos dias, de tantos de nós, um porta-a-porta requerendo emprego, requerendo pão (basta ver quantas mãos se nos estendem na travessia de um rua das cidades que habitamos), requerendo direitos do trabalho havido (e lembro-me dos pensionistas como eu), lembro-me dos que partem, desprezados em seu saber-fazer (entre os quais está um filho meu), lembro-me dos embustes, ao jeito do que praticou aquele escravo na democrática Atenas do seu tempo, da farsa com que no-los disfarçam no palco da “polis” que habitamos.
Um amigo (na rua):
Então, como vai isso?
Eu, tu, um outro (tantos de nós):
Vai-se vivendo…
Ah!… Porque não brilha para todos este sol de um Verão português?!…