Resposta queirosiana

Nessa tarde de Sintra, leio a certo passo, tinham os dois «conversado muito, e divergido sempre», como V.ª Ex.ª gosta de fazer comigo.

  • 20:43 | Quinta-feira, 13 de Agosto de 2020
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Ex.mo Senhor Vasconcelos,

A sua carta apanhou-me a reler A Correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queirós. Ia na introdução, na qual o narrador desenha um perfil biográfico e subjectivo desse Fradique viajante, nefelibata e autor de um livro de poesia. No Verão de 1877, Fradique Mendes manteve uma longa conversa com J. Teixeira de Azevedo na Quinta de Saragoça, em Sintra. Dali saiu um relacionamento epistolar que em alguns aspectos se aproxima do nosso. Eu não quero ser, nessa comparação, o Fradique Mendes, demasiado relativista, improdutivo e intransigente. Mas V.ª Ex.ª é, ou podia ser, J. Teixeira de Azevedo.

Nessa tarde de Sintra, leio a certo passo, tinham os dois «conversado muito, e divergido sempre», como V.ª Ex.ª gosta de fazer comigo. J. Teixeira de Azevedo, que «sentia uma inapelável antipatia pelo que ele chamava linfatismo crítico de Fradique», segundo diz o narrador, passou a corresponder-se «regularmente com ele – mas para o contradizer com acrimónia». Eça de Queirós escreveu sobre V.ª Ex.ª, senhor Vasconcelos, sem o conhecer!


Não me custa admitir uma crassa ignorância sobre Túlio Pereira, José Martins e, já agora, Noé. Vou ver o que encontro sobre eles. Nada prometo, porém. Não disponho de arquivos, documentos ou livros que me auxiliem, nem de tempo para pesquisas demoradas. Diga-me V.ª Ex.ª o que sabe, se é que sabe alguma coisa, e eu e os leitores ficar-lhe-emos gratos. Caso contrário, continuarei a subscrever-me, como sempre,

De V.ª Ex.ª cr.do at.º obr.do,

Escrivão

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