Memorial da devoção ceireira
O Padre Carlos Rodrigues Carvalho e o padre Francisco Esteves Marques levam já mais de uma vintena de anos como párocos da Beselga onde residem estendendo a sua missão pastoral a uma extensa rede de paróquias das redondezas. Todavia eles guardam a jovialidade antiga, uma virtuosa capacidade de relação com a sua gente que olham […]
O Padre Carlos Rodrigues Carvalho e o padre Francisco Esteves Marques levam já mais de uma vintena de anos como párocos da Beselga onde residem estendendo a sua missão pastoral a uma extensa rede de paróquias das redondezas. Todavia eles guardam a jovialidade antiga, uma virtuosa capacidade de relação com a sua gente que olham como irmãos nesse quotidiano feito festa e trabalho, a disponibilidade permanente e generosa que cativa a sua gente que por eles nutre uma afeição tão cristalina como as águas das suas ribeiras.
Ao caso detenho-me na Beselga onde tive o privilégio de com eles ter mantido quase um ano de frequente relação, por eles desafiado para levar a termo um projecto que de há muito acarinhavam – o resguardo de memórias que evocavam essa extensiva missão de igreja que atravessou séculos, objectos tornados semióforos de um quadro vivencial conformado aos normais ciclos que o tempo naturalmente fez alterar.
Designámos como Memorial da Devoção Ceireira a concretização do projecto que encontrou lugar num abonado 1.º piso da chamada Casa da Paz levantada pela paróquia de orago Santa Cruz, a espaldas da Igreja matriz. Não designámos “museu” este espaço, ficando-nos pelo atributo de ”núcleo museológico”. Todavia quisemos que a lição museológica, essa teoria de estudo e de deleite, que o museu assume por natureza ali ficasse cumprida. Dedicou-se particular cuidado à conservação dos objectos, expuseram-se de forma cativante, associaram-se-lhe esses necessários instrumentos de comunicação, o flyer de breve informação, um Roteiro para mais abrangente esclarecimento, o acompanhamento pessoal, um livro para crianças que é documento também.
Memórias da vida paroquial, na sua génese, constituem-se em três distintos núcleos designados como Igreja e Liturgia (reunindo rara colecção de objectos que sustentaram o culto animado por uma lição de igreja), Nosso Senhor dos Passos-Devoção e Festa (referente vivencial de uma acarinhada devoção enraizada na gente ceireira) e Religiosidade popular (corpo de objectos que antes expressam uma mais livre e intimista relação com o sagrado).
A identidade da freguesia, no cível, mereceu uma particular atenção a este projecto da paróquia e ali se reservou um espaço ao tradicional ofício de ceireiro que emblematicamente caracteriza a gente da Beselga, odisseia designando esse curioso labor feito de assento em oficina e de viagem desses vagamundos que percorriam o país, quase todo, com seus pregões que anunciavam a útil mercadoria que levavam.
Um extenso painel retroiluminado com quase uma centena de excelentes fotografias e elucidativos textos ilumina o espaço geográfico e humano que se construiu, corpo e alma, desde, pelo menos, uma Baixa Idade Média, devedora de uma terra fecunda com sua Ribeira, de encostas que o arado teve de lavrar e de serrania brava que garantia o pastoreio, as lenhas e a caça.
Ei-lo, disponível, este saboroso Memorial desde 3 de Setembro, data da festiva romaria do Senhor dos Passos, aguardando agora nossos passos.