FUNDAÇÃO AQUILINO RIBEIRO (Ou a invenção de um centro do mundo aquiliniano)
Pausânias (séc. II d. C), o singular viajante grego que na sua Descrição da Grécia carreia importantíssimas lições acerca de múltiplos aspectos da cultura grega que tão forte suporte é da nossa cultura, descreve com verdade as ritualidades que se cumpriam no santuário dedicado a Apolo, em Delfos, que abrigava esse ícone sagrado – […]
Pausânias (séc. II d. C), o singular viajante grego que na sua Descrição da Grécia carreia importantíssimas lições acerca de múltiplos aspectos da cultura grega que tão forte suporte é da nossa cultura, descreve com verdade as ritualidades que se cumpriam no santuário dedicado a Apolo, em Delfos, que abrigava esse ícone sagrado – o ônfalos – (significação de “umbigo”), a pedra que Reia oferecera a Cronos intentando salvar da sua gula o filho Zeus acabado de gerar e que ali se tornara símbolo de um centro cósmico, diz o geógrafo citado, onde tinha lugar a comunicação entre o território dos homens, o subterrâneo mundo dos mortos e o luminoso espaço das divindades.
Soutosa (Moimenta da Beira), sede física da Fundação Aquilino Ribeiro, deveria ser, na óptica do criador da Fundação, o filho mais velho de Aquilino, uma espécie de centro, ônfalos autêntico ainda que simbólico, polo de união entre aqueles que, neste reduzido chão e tempo que habitamos, pretendessem cultivar a memória do Mestre, alguns tão desavindos, por má fortuna.
Mágico espaço deveria tornar-se de operativa ligação de afectos e respeito para com essa plêiade que deixou de pertencer ao mundo dos vivos, Aquilino em primeiro lugar, sua gente de sangue que por ali deixou memória e esses “heróis” celebrados nas Terras do Demo e em outras geografias que nos tornou familiares.
Outrossim deveria assemelhar-se a essa atmosfera de quase seio materno, a esse tranquilo e místico lugar que é o Rochedo da Lapa e, por fim, inspirar a permanente revelação desse panteístico universo espelhado na natureza criada, habitada, Aquilino sabia bem, por multiplicadas criaturas, umas benfazejas, outras maléficas, algumas destas últimas estranhamente veneradas ainda por alguns homens que eu sei.
A Fundação precisava de ser tornar este ônfalos, esta pedra angular, este centro, jeito de santuário onde se pressinta a doce atmosfera de Delfos, onde, no silêncio, os três citados mundos se encontrassem.
Não custaria nada, parece.
Bastaria que os homens se sentissem irmãos. E agissem como tal.
Mas quão difícil está a ser!…