“De que falamos quando falamos de cultura?”

Elemento basilar da construção do homem, naturalmente da sociedade, a cultura deveria constituir alicerce de um pensamento político e de uma acção sequente e condizente

  • 10:11 | Terça-feira, 03 de Outubro de 2017
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De que falamos quando falamos de cultura? é o título de um livro de Fernando Pereira Marques saído em 1994 com chancela da Editorial Presença e nele o autor reclamava a urgência de uma séria reflexão mais vocacionada para uma praxis do que para o próprio conceito de cultura, reflexão atinente naturalmente à complexidade que o próprio conceito  e a sua materialização compreendem.

Elemento basilar da construção do homem, naturalmente da sociedade, a cultura deveria constituir alicerce de um pensamento político e de uma acção sequente e condizente ao nível de todas as instâncias de poder, esferas em que todos sabemos encontra deficientes suportes, que o digam os criadores, quaisquer que sejam, os profissionais nas suas múltiplas vertentes, e aqueles também que teriam direito a ser legítimos usufruidores, uns e outros, na sua reduzida dimensão incapacitados de uma construtiva crítica que pudesse fazer inflectir um pouco os azimutes da governação.

Vem esta pequena nota a propósito da pretendida comemoração dos 75 anos da fundação da Revista Beira Alta criada em 1942 no âmbito das atribuições de cultura da Junta de Província da Beira Alta, herdada posteriormente pela Junta Distrital de Viseu, depois pela Assembleia Distrital de Viseu e titulada, ao momento, pela Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões, integrada por 14 municípios deste aro geográfico que são as terras do Dão e de Lafões.


Não compreendeu esta instância, me parece, a importância desta Revista, manancial riquíssimo de estudos que ao longo de 75 anos, nunca a edição interrompida, uma notável cadeia de investigadores trouxe para conhecimento da região. Não compreendeu a acção dos dois grandes Directores, Lucena e Vale e Alexandre Alves que a dirigiram, cada um por trinta ou mais anos e nela deixaram milhares de páginas de profícuo saber e deleitável leitura e que mereciam esta homenagem. Não compreendeu a colaboração do Museu Nacional Grão Vasco que se disponibilizou a acolher, durante dois meses, duas exposições, uma delas de suas colecções com referência à Beira Alta. Não compreendeu a acção do Cineclube de Viseu que protagonizava um ciclo de cinema sobre a Beira Alta. Não compreendeu a importância que teriam os textos do Conselho Consultivo (onze professores de superior craveira universitária), em Jornadas em vão programadas para Outubro com o título “Beira Alta – Actualidade e Memória”.

Claro que era necessário um suporte financeiro. Sete mil euros, pouco mais, estariam bem para comemorar 75 anos de um Boletim Paroquial que ininterruptamente fosse publicado durante 75 anos. Não estavam bem para comemorar 75 anos da Revista Beira Alta. Digo isso porque colaboro nesses pequeninos e benéficos Boletins.

A Revista Beira Alta, ao fazer 75 anos merecia mais. Merecia muito mais do que os pouco mais de quinhentos euros proporcionais, se se pode dizer, a cada uma das catorze Câmaras.

O que é que ela, a Revista Beira Alta, no que representa, contou dentro dos programas oferecidos ao povo, todos nós, nos textos programáticos dos candidatos autárquicos nas eleições do dia de hoje em que irei votar, direito e dever de cidadania que sempre cumpri?

De que falamos quando falamos de cultura?

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