AQUILINO – “CINCO RÉIS DE GENTE” – Recortes de Infância
2 – CARREGAL – Os trabalhos e os dias SERNANCELHE. Carregal – Igreja matriz. Eu nasci perto do Távora, no concelho de Sernancelhe, numa aldeiazita pacata, pobre. …………………………………………………………………………………………………………………… Era uma terra de castanheiros. Eu nasci no meio dos castanheiros, na zona dos castanheiros. Sabe que o castanheiro é uma árvore bonita, uma […]
2 – CARREGAL – Os trabalhos e os dias
SERNANCELHE. Carregal – Igreja matriz.
Eu nasci perto do Távora, no concelho de Sernancelhe, numa aldeiazita pacata, pobre.
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Era uma terra de castanheiros. Eu nasci no meio dos castanheiros, na zona dos castanheiros. Sabe que o castanheiro é uma árvore bonita, uma árvore da força e da beleza.
Aquilino Ribeiro, Entrevista a Igrejas Caeiro, 1958.
Aquilino chamou-lhe Lomba, à aldeia, à aldeia do seu tempo de menino. Que era nome efabulado, que tudo por ali, quase tudo, se contava em voz de lenda – Era uma vez!…
Mas o nome da aldeia, de verdade, era Carregal.
O casario corria, lado a lado, nas ruas estreitinhas, aconchegado como as aves em um ninho.
Havia a fonte onde os cântaros mergulhavam, para encher, a capela de Santo Amaro e a igreja com um adro pequenino.
Ao redor ficavam hortas, renques de videiras, chãos de milharais, courelas de centeio e soutos de velhos castanheiros que eram para a aldeia como coroa de um rei. Mais além a serra brava, urze, giesta, rosmaninho, pinheiral e a crista dela desenhando a fronteira.
O sol e a lua governavam a noite e o dia, o sono e o trabalho, o nascer dos anhos e dos filhos, o rebentar da água e das flores, as desfolhadas, o cair das castanhas, o sino a tocar Ave Marias.
Nos caminhos passavam romeiros para a Lapa ou Santiago, pobres de pedir, caldeireiros, ciganos, comediantes e os Malhadinhas. E os que embarcavam para a França ou o Brasil.