A paridade de género em Beatriz Pinheiro

No JN podia ler-se: “em média, as mulheres portuguesas ganham menos 14,4% que os homens, numa diferença de 149 euros".

  • 23:39 | Sexta-feira, 06 de Março de 2020
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Hoje de manhã, ao ligar-me à net para ler as principais notícias, deparei-me com o destaque dado à disparidade de salarial entre mulheres e homens, como estes a ganharem, em média, mais 14,4% do que elas.

quando se tem em conta o salário-base médio bruto recebido por elas e por eles. A média da remuneração das mulheres não vai além dos 886 euros. Nos homens, é de 1035 euros”. A revista Sábado escolheu o título: “Homens ganham mais 148.9 euros do que as mulheres”. Título semelhante podia ser encontrado no DN: “As mulheres ganham em media menso de 140 euros do que os homens”. Se escolhesse outros meios de comunicação, o tema repetir-se-ia. Um facto insofismável: na generalidade, as mulheres ganham bem menos do que os homens.

De imediato recordei-me que há 120 anos, na revista Ave Azul, publicada em Viseu, Beatriz Pinheiro insurgia-se contra a exploração da mulher pelo homem, defendendo a paridade de género. No fascículo 8, de Junho de 1899, escrevia:


É contra esta miséria, este aviltamento, esta exploração da mulher pelo homem que eu me revolto com todas as forças da minha alma e lhes digo, a essas pobres vítimas do egoísmo do homem […] que reivindiquem os seus direitos, que façam por conquistar a igualdade civil e política, que sejam nos bancos das escolas as dignas rivais dos mais inteligentes e estudiosos e se façam, enfim, médicos, advogados, engenheiros, empregados públicos, tudo […] numa concorrência leal mas decidida com ele, como o homem […] para a conquista do pão de cada dia […]. O que eu quero é que a mulher progrida sempre, que por todos os meios justos ao seu alcance faça por se tornar igual ao homem, para, de uma vez porá sempre, acabar com esta pretensa superioridade de macho e ela deixar, enfim, de ser a misera escrava emparedada e manietada, o ser secundário, ínfimo, que ora está sendo”.

Se hoje, no início da década de vinte do século XXI, as mulheres estão em maioria nas universidades, não precisando de rivalizar com os colegas homens, o mesmo não acontece em outros campos da vida em sociedade. Se, em 1975, foi-lhes conferido o direito de voto, passaram quase trinta longos anos para a Assembleia da República aprovar a Lei da Paridade nos Órgãos representativos do Poder Político – Lei Orgânica 3/2006, de 21 de Agosto, rectificada pela Declaração de Rectificação nº 71/206, de 4 de Outubro e alterada pelas Lei Orgânica nº1/2007, de 2 de Maio e Lei Orgânica nº 1/2009, de 29 de Março -. Resta saber se é integralmente cumprida por todos os partidos políticos com representação parlamentar … Nos virarmos para os cargos de topo, apesar das competências, as mulheres estão em evidente minoria. Repito, 120 anos depois, a revolta de Beatriz continua na ordem do dia, havendo, ainda, um longo caminho a percorrer.

Ao aproximar-se a comemoração de mais um Dia Internacional da Mulher, não podia deixar obnubilado o pensamento feminista e a luta de Beatriz pela concretização dos direitos da mulher. Não nos esqueçamos que, a 29 de Outubro de 2021 se comemoram os 150 anos do seu nascimento.

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