A condessa grega
Um dia soube que uma grande amiga de minha avó materna esteve para nele embarcar, e que só não fez a viagem fatídica por um conjunto de circunstâncias que agora não sei recordar.
Li uma notícia sobre o Titanic que sugere que o seu afundamento possa ter estado relacionado com um incêndio durante a fase de construção. Tudo isto me lembrou o obstinado fascínio que o navio operado pela White Star Line sempre me exerceu em miúdo.
Um dia soube que uma grande amiga de minha avó materna esteve para nele embarcar, e que só não fez a viagem fatídica por um conjunto de circunstâncias que agora não sei recordar. O que interessa é que não descansei até ser levado junto desta minha nova heroína. E assim se realizou esse encontro, o primeiro de muitos, aliás.
A minha nova amiga era, de facto, uma condessa grega, que morava na Rua Braamcamp. Nunca lhe soube o nome, e sempre a tratei por Condessa. Lembro-me da primeira visita, a mais impactante: a subida num elevador com cadeira em cabedal, e eu quase como um pequeno plebeu a ascender à primeira classe do Titanic. E a entrada no seu apartamento, um onirismo que só tinha vislumbrado em alguns filmes, um apetrecho de salas e salas de uma beleza viscontiana. O jantar numa mesa sem fim, a descoberta de uma fruta seca com o insólito nome de “pistachio” e o encanto de uma bela senhora octogenária com um sotaque ligeiramente afrancesado, juro-vos que nessa noite naveguei no Titanic e que fui finalmente um pequenino lorde, deserdando por algumas horas os valores republicanos tão fielmente herdados da minha família.
Terminou o jantar como acabam todos os bons sonhos. Mas graças a uma condessa grega e aos seus jantares percebi que os transatlânticos podem navegar no meio das cidades mesmo que tenham desaparecido nas águas geladas do Atlântico Setentrional.