CAVALHADAS E FESTAS JUNINAS NO BRASIL – Da provável influência nas Cavalhadas de Teivas
Quase se perdeu, em Portugal, a celebração das tradicionais Cavalhadas que possivelmente a partir do século XVII se revelaram como folguedos estreitamente ligados a uma tradição cavaleiresca com raiz na Idade Média a qual mantivera em tempo de paz o adestramento nas armas através das divertidas justas e fingidos combates celebrados em clima […]
Quase se perdeu, em Portugal, a celebração das tradicionais Cavalhadas que possivelmente a partir do século XVII se revelaram como folguedos estreitamente ligados a uma tradição cavaleiresca com raiz na Idade Média a qual mantivera em tempo de paz o adestramento nas armas através das divertidas justas e fingidos combates celebrados em clima festivo. Das tradicionais cavalhadas só uma residual memória permanece em episódicos cortejos (evoco Penafiel e Viseu / Vildemoinhos) onde o Alferes da bandeira e os respectivos Mordomos com seus garbosos trajes surgem montados em impantes cavalos.
No Brasil as Cavalhadas mantêm-se vivíssimas em muitos dos seus Estados (Alagoas, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, e outros) guardando uma genuína proximidade do que acontecia no grande tempo da colonização quando os padres jesuítas, com o beneplácito da Coroa, recorreram a esse instrumento simbólico para a catequização dos índios e escravos africanos.
É que esses festivos rituais cavaleirescos, evoluindo das velhas justas de treino e entretém de uma aristocracia guerreira, assimilaram, em jeito de dramatização, a pedagogia das velhas lutas de mouros e cristãos recuperadas das tradições cavaleirescas que remontam a Carlos Magno evocando essa epopeia da luta em que foram paladinos os Doze Pares de França contra os inimigos dos cristãos.
Herdeiras desta tradição, as Cavalhadas do Brasil, para além de diferenças regionais, apresentam-se, na sua essência, como grandioso espectáculo de virtuosos combates, cavaleiros cristãos vestidos de azul, cavaleiros mouros vestindo de vermelho (sempre derrotados no fim e baptizados), vivo o colorido dos jaezes dos cavalos e da indumentária dos cavaleiros, eufórico teatro de magia que atrai numeroso público que folga ainda com as facécias e o permissivo atrevimento dos mascarados.
As Cavalhadas de Teivas que apresentam como seu mais emblemático sinal a colorida e movimentada Dança da Morgadinha não foram influenciadas por tais manifestações, antes o foram por essa outra fortíssima tradição folclórica, também ela com raiz na então metrópole, carismática ainda hoje Brasil fora, particularmente no Nordeste, que é a das Festas Juninas que celebram os Santos Populares nesse tempo solsticial, ali de inverno, quando as colheitas acabaram de fazer-se e se agradecem ao santos, deles requerendo outra vez, particularmente de S. João, a protecção divina para a colheita que há-de vir.
Tais festas que envolvem hoje toda a comunidade de muitos polos urbanos e ganharam foros de atracção turística, que integram uma comensalidade típica com base na variada confecção de alimentos a partir do milho acabado de colher, relevam sobretudo pelo grandioso baile derivado da dita “quadrilha” de exportação europeia em que os pares evoluem em jeito de marcha, governados por um “marcador”, pandeiro, violão, acordeão sustentando a música. Os trajes fortemente coloridos dos pares inspiram-se na indumentária das comunidades caboclas do Nordeste onde o chapéu de palha era de uso habitual
Teivas herda esta tradição das Festas Juninas brasileiras e assim a Dança da Morgadinha, derivação desses animados bailes, introduzida em tempo nesta comunidade beirã por emigrante de torna-viagem, integra como elementos constituintes, naturalmente adaptados às circunstâncias, os coloridos trajes em que um vistoso lenço português é imagem de marca, a garridice de um chapéu de fantasia, os pares dançantes evoluindo ao som de uma marcha conduzida pela voz, aqui de um “ensaiador”, verdadeiro marcador, instrumental com algum afastamento do original, e essa atmosfera de festa que magicamente se gera quando o Cortejo passa na tarde em que o povo de Teivas sobe a Viseu num solsticial tempo de Verão, ufano da sua singular identidade.