Desenvolvimento amigável
Qualquer semelhança desta rábula com a realidade, claro que só pode ser mera coincidência. Porquê? Porque não vivemos nem na Somália nem no Sudão, of course
Ontem à noite num “wine bar” da cidade – novo e chic nome das tabernas de antanho – depois da animada saída de dois administradores da res publica, inspirou-se o compadre Zacarias, já no seu terceiro ancho cognac e desatou no seu rosário de “última hora”.
– Há associações de desenvolvimento-blá-blá cuja direcção é mais pretendida que uma reserva especial do Barca Velha. Está a ver? E porquê? Pois, pela capacidade funcional de “gerir” os dinheiros da malta, quer dizer, a massa pública, em prol do desenvolvimento de alguns!
Tal dito, ensimesmou-se o compadre e a mim, deixou-me pasmado.
– Então uma associação não é para os seus associados? E os associados não se associam para a promoção do desenvolvimento comum ou colectivo? – foi o melhor que ajeitei retorquir.
– Claro! respondeu-me enfático o compadre Zacarias, associam-se, muitos deles para a promoção do auto-desenvolvimento, ou o desenvolvimento dos seus, ou daquilo que é seu! – e acrescentou com aquele seu ar de raposão, senhor de muita labieta – O compadre sabe porque temos tantos turistas? Porque o turismo rural é uma realidade nacional e muito local. Ouça cá, não tem nenhuma casinha velha que queira ajeitar para a velhice? Então associe-se, homem! Associe-se enquanto o úbero não seca! E ouça lá mais esta. Uma empresazinha “amigável” também encontra artéria…
– Artéria, compadre Zacarias? Não o entendo.
– Arre! então não sabe o que é uma artéria? Uma veia mais fininha, para passarem umas bolhinhas de oxigénio… E digo-lhe mais, já que estamos a falar de desenvolvimento, não quer formar uns companheiros?
– Formar companheiros, compadre Zacarias? Se ainda fosse reformar… Mas isso não é nas universidades, politécnicos e…
Interrompeu-me abrupto para rematar: — Ná amigo! Você anda desorbitado! Esta formatura é como na parada do quartel. Dura pouco, só o tempo do comandante passar revista às tropas, aprumadinhas e engraxadinhas… é uma FGV, como o TGV!
Esta conversa pareceu-me esquisita. Mas como eram 23H55 e o compadre Zacarias já estava acelerado com o seu quarto cognac, não lhe dei grande crédito. Deixou-me só a pensar no assunto e a considerar com os meus botões: Isto é coisa para aprofundar…
Post scriptum: Qualquer semelhança desta rábula com a realidade, claro que só pode ser mera coincidência. Porquê? Porque não vivemos nem na Somália nem no Sudão, of course!