A pobreza em Portugal e o futuro da UE
Os últimos dados do INE são bem reveladores de uma das dimensões que mais nos deve preocupar, desde logo, enquanto cidadãos: a do aumento da pobreza e do risco de pobreza. E se estes dados não nos podem deixar nada descansados, eles exigem, sobretudo, medidas alternativas concretas que visem o seu combate, pois […]
Os últimos dados do INE são bem reveladores de uma das dimensões que mais nos deve preocupar, desde logo, enquanto cidadãos: a do aumento da pobreza e do risco de pobreza.
E se estes dados não nos podem deixar nada descansados, eles exigem, sobretudo, medidas alternativas concretas que visem o seu combate, pois aquilo que a dura realidade nos oferece mais não é do que a tradução do completo fracasso das políticas deste governo no domínio económico e social.
De facto, o programa de ajustamento a que esta maioria submeteu o nosso país não trouxe, como nos apregoaram e apregoam, mais justiça social, bem pelo contrário. Não foram os que mais tinham que mais suportaram a crise, como pretendeu insinuar o primeiro-ministro há dois meses atrás, quando disse “ao contrário do que era o jargão popular de que quem se lixa é o mexilhão (…) desta vez contribuiu mais quem tinha mais”.
Não senhor primeiro-ministro, não foi como disse. Com estas políticas para além do programa, que o seu governo, do PSD e do CDS, implementou, têm sido e continuam a ser os mais pobres, o “mexilhão”, para utilizar a sua infeliz expressão, que estão a pagar a crise.
É que as suas políticas traduziram-se num drama social para Portugal e para os portugueses: aumento inaudito da emigração, desemprego insustentável e aumento significativo da pobreza e das desigualdades.
Isto é, quase 20% da população portuguesa está em risco de pobreza, valor que só encontra paralelo, conforme referiu, recentemente, António Costa, nos tempos do último governo de coligação chefiado por Durão Barroso, em 2003. Ou seja, regredimos uma década.
Mas este aumento da pobreza atingiu sobretudo a faixa etária dos jovens e crianças (25,6%), com o todo o significado de desesperança que acarreta, cortando-lhes as oportunidades de realização do seu potencial neste país que é o seu.
A classe média, igualmente, não foi poupada e viu recair sobre si também uma carga fiscal asfixiante.
E radica aqui o debate sobre o futuro da União Europeia. A UE não resistirá se não forem criadas políticas alternativas. Políticas que permitam o combate em Portugal e nos outros países à pobreza, o combate ao desemprego, o combate à austeridade. É uma questão de racionalidade. Ou a UE muda de estratégia e decide, inequivocamente, apostar em políticas centradas na equidade, na justiça social, na dinamização da economia e combate ao desemprego, ou ganhará o radicalismo, vencerão os que querem combater o euro e o modelo europeu.
O plano Juncker e o programa do BCE são sinais positivos, mas ainda escassos face ao combate que é preciso travar na Europa.
Mas o drama é que o governo português já deu mostras que não está, nunca esteve, à altura dos acontecimentos, até pela forma como se tem referido aos vencedores das recentes eleições na Grécia. Um sufrágio livre e legítimo de um povo soberano que Passos desrespeita.