A piroaqua de Viseu

Do latim pirum (fogo) veio o antepositivo piro, que deu a lista de 72 vocábulos infra referenciados: O executivo de Almeida Henriques, ou talvez não, pois tem lá pessoas sensatas, os seus peritos em comunicação e marketing que têm tido as mais alucinadas ideias desde o “Viseu é de 1ª água”, na dinâmica explosiva que […]

  • 13:22 | Domingo, 28 de Dezembro de 2014
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Do latim pirum (fogo) veio o antepositivo piro, que deu a lista de 72 vocábulos infra referenciados:

O executivo de Almeida Henriques, ou talvez não, pois tem lá pessoas sensatas, os seus peritos em comunicação e marketing que têm tido as mais alucinadas ideias desde o “Viseu é de 1ª água”, na dinâmica explosiva que os agita, move e impele, acabaram de criar ou copiar de algures um neologismo “piroaqua”.
Numa língua viva tudo é possível na sua jovial evolução. Porém, embora cheios de boa vontade, não adregamos a despegar do ridículo do vocábulo. Primeiro, porque o fogo e a água são antagónicos, servindo aquela para extinguir este. Segundo, porque por homofonia, o termo pode ser interpretado algo brejeiramente. Terceiro, porque por homografia, basta um fenómeno de metaplasmo supressivo, com a síncope de um fonema no meio da palavra para ocorrer uma… gargalhada com a fálica analogia.
De qualquer modo, o afã criativo/inventivo desta gentinha dá-lhes um atrevimento sem freio que cremos até acicatado pelo esporim “valquírico”deste inefável edil.
O que é certo é ser a festa rija. Aliás, festa rija é já rótulo de Viseu, cidade que se está a assemelhar, na sua opulenta (de) cadência, aos “festins” vínicos do Dioniso grego e do Baco romano e suas ménades.
A festa da Passagem de Ano, em Viseu, colava-se ao foguetório num estralejar colorido, efémero e bacoco. Em menos de 10 minutos atordoavam-se os ares, espantava-se a passarada estremunhada e acordavam-se, em convocatória premente e inevitável, os menos boémios para o fogo-faralho atordoador. Consumiam-se deste modo largas dezenas de milhares de euros, o que sempre foi mais criticado que louvado.
Mas desta feita, o Montepio Geral patrocina a festa (ou parte dela) com 75 mil euros, e vai daí, a Senhora Câmara, resolve fazer um inédito bailarico: pôr as águas a dançar e lançar ao ar 360 jactos (mais 5 e faziam o ano), talvez porque… Viseu é de 1ª água… Ela até dança. E se dança, ao fim de milhares de anos, numa salsa sensual, macumonada com o fiel inimigo, o fogo, quem consegue tal milagre, consegue-os a todos. E aí temos a tal piroaquada, ou festival da piroaqua.
E esta região, em matéria de bailaricos sempre foi muito inovadora, mas nunca tanto e tão alto chegou. Que foi ou é o “baile do comboio”, o “baile da gravata”, a “dança dos cus”… ao pé desta piroaquada no adro da Sé? Nada! Definitiva e decididamente nada!
Agora confessem cá, aqui que ninguém nos ouve… se autarcas destes não existissem para nos divertir e piroaquar os munícipes, a vida era uma sensaboria tão soturna, não era?


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