Vinda de Copenhaga… Para fotógrafos loucamente abastados… Com preços a começar nos 46 mil dólares e daí para diante sempre a subir… Alpa é a marca. Entre muitas especificações, uma aqui deixo: 80 MP… Alucinante! Onde parará a tecnologia?
Talvez esta efemeridade hodierna seja uma das causas que nos leva ao simples efeito de nos ancorarmos (esta palavra está in and up) nos tradicionais modelos clássicos, menos sofisticados na sua parafernália inovadora mas, em compensação, oferecendo ao fotógrafo a capacidade de eximir e exprimir a sua “ciência”, ao invés de permitir à ciência a capacidade de eximir e exibir o fotógrafo.
É fantástica, a evolução tecnológica, mas é primordial deixar um espaço para o conhecimento pessoal da “arte” e para a capacidade inventiva/criadora do “artista”.
Como conjugar estes ingredientes? Não há resposta chapa 4… é subjectiva e individual a opção a tomar. Depende muito de quanto se pode e quer investir em equipamento, na certeza de que a melhor máquina não faz, forçosamente o melhor fotógrafo e de que um bom fotógrafo não precisa da melhor máquina…
Varia do objectivo de cada um, que pode ir do mero e primicial amadorismo ao sofisticado profissionalismo. Como exemplo: conheci um excelente foto-jornalista que “trabalha” com 60 mil euros de equipamento. É a sua “enxada”…
Nos anos 50/60 comprava-se uma câmara para durar até 2000 (ou uma vida inteira, ou eternamente…); hoje compra-se um aparelho cujas especificações se anacronizam ao fim de 2 anos… Consumismo & gadgets!
Pessoalmente, a minha resposta, em termos de “aparelhos”, e de acordo com os meus condicionalismos, limitações e circunstâncias, é: uma reflex gama média com 4 razoáveis lentes; uma bridge gama alta com uma lente fantástica da Zeiss; uma compacta com uma lente altamente luminosa da Leica. E, naturalmente, um tripé gama média, com boa “cabeça”. Fundamental: tirar um mínimo de uma centena de pic’s/dia. Deitar 90/95 fora…
E depois, gradualmente, investir tempo, devoção e dedicação nas e com as analógicas e… “gastar”, mesmo a “estragar”, o maior número de película (rolo) possível. Ainda assim, consciencialize-se, sem ilusões: não chegará nunca aos calcanhares de um… Cartier-Bresson!
Jogar com o modo, a focagem, a velocidade de obturação, a abertura, o ISO, a objectiva, o modo de disparo, o equilíbrio de brancos… os motivos, os ângulos/perspectivas: da paisagem, ao macro, aos animais, ao retrato, ao preto e branco, ao movimento… e depois, de entre estes, as diferentes horas/luz, o interior e o exterior, as documentais, o arrasto, o congelamento, o panning, o infravermelho, o dramatismo, as longas exposições, o flash…
Por mera e abusiva analogia (permitam-me e para concluir esta arenga): fabricam-se hoje automóveis super-potentes e hiper-caros que estacionam sózinhos, dão todos os alertas em estrada, têm dispalys nos vidros, detêm toda a espécie de componentes de controlo de estabilidade, de tracção e etc. Mas… onde se situa o prazer puro da condução? Esse prazer que se atingia à estonteante velocidade de 100 kms/hora… hoje precisa de dobrar e mesmo a 200… não se passa quase nada!
Algum de vocês, alguma vez, curvou depressa (esta noção de “depressa” é hoje relativa…) com um Carocha do início dos anos 70? Um 1302 S, por exemplo? Ou com um Renault Dauphine Gordini do início dos anos 60? Ou com um Cooper S da mesma época? Ou com um Spitfire de 74? As curvas do Luso, a descer? Ou de Vouzela até Albergaria? Ou o Caramulo a subir e a abrir? Não? Muito bem, não maço mais…
Vamos disparar uns shots? Mesmo que sejam umas selfies? Não vivemos a “era da imagem”? O meu tablet, onde estou a escrever este texto, já tem uma “função” de espelho e câmara. “Cum catano”! Ou seja, posso especular e fotografar-me… Que horrível falta de gosto!