Arriver em francês significa chegar. Em português há um vocábulo etimologicamente oriundo desta palavra, que deu “arrivista”.
O que é no nosso léxico um “arrivista”? É alguém que chega de novo, não a um espaço geográfico, mas a um espaço social, intempestivamente decidido a um eficaz alpinismo de antecâmara, gabinete ou salão nobre. Bom, agora no DLPC da Academia das Ciências de Lisboa: “pessoa que procura conquistar rapidamente e de forma pouco escrupulosa um lugar de destaque na sociedade, a que não teria acesso por mérito próprio.” Como isto da filologia é interessante, acrescento ainda: o latim arripare, significava chegar à margem = ripa -» rive…
Ou são jovens cheios de élan e jota-oportunismo ou decadentes “vedetas”, geralmente oriundas da política, chorudamente aposentados a prestar “estranhos serviços” em autarquias, com consultorias moderníssimas nas mais diversas áreas de intervenção ou engenharias de alto coturno e pouca elevação.
Geralmente, o “arrivista” tem um ego superinflamado. Crê-se insubstituível e, mesmo sem provas passadas dadas de tanto merecimento, tem e vende projectos para tudo. A política deu-lhe conhecimento, não técnico ou científico, mas na facilidade do jeitinho “que é da cor”, camarada ou companheiro.
E é fácil e até frequente ver-se um biólogo que descobriu a arqueologia camarária, um ex-autarca que aterrou na civilidade das engenharias urbanas, uma vereadora reciclada no marketing, um comandante na comunicação social, um veterinário nas mirabolâncias Qren ou um maratonista da J. especialista em empreendedorismo (nunca sei bem como é que esta palavra se escreve!).
O que quer o “arrivista”? Atenção, protagonismo, uma placa numa obra, um “cachet” de artista, uma sinecura doiradinha. Os “arrivistas” têm em comum um largo espectro de saber que lhes permite ser tudo e mais alguma coisa — evidentemente que pouco trabalhosa — e de recompensa arredondada.
Arrastam-se oferecendo seus préstimos por aí, de instituição em instituição gabando seus capitães, de toca em lura acossados pela voracidade.
Andam por aí, os “arrivistas”. Exsudam uma baba viscosa e fétida. Até a imagem lhes cheira mal. Mas há quem não repare…