Em semana do falecimento do Papa, arrearam-se as bandeiras partidárias, e a política, perdendo fulgor, passou um pouco para segundo plano. A relevância noticiosa foi outra.
Com o debate, já adiado, entre os líderes que ambicionam a vitória, tudo voltará à casa de partida. Mas irá acontecer. Dos protagonistas, se não houver um apagão de um deles, virão os ataques, as acusações, os salamaleques com os partidos da mesma laia, que, em hora de contas incertas, não querem hostilizar. E as contas, as sondagens, as análises, os comentadores, os “gurus” de bancada, os consultores de imagem, encherão a noite, num corrupio, a ver qual deles tem mais crédito e mais bom senso no que se atrever a dizer. Normalmente incontidos, antecipa-se verborreia e falatório abundantes.
Os militantes, como os adeptos da bola com o seu clube, darão a vitória ao líder do seu partido, e verão nos percalços pequenos incidentes e nas mentiras simples lapsos de memória. Brandos com o seus, severos com terceiros. E se algo correr menos bem, a culpa será dos moderadores, tendenciosos, de direita ou de esquerda, conforme o ângulo de análise e o que lhe der mais jeito.
A esta distância do dia das eleições – três semanas – não creio que a conversa sirva para algo mais do que satisfazer clientelas e dar esperança a quem anda carente, sedento de mimos e carícias, de uma ilusão.
Os políticos, a dois, não se deixavam ouvir, interrompiam-se constantemente, davam uma péssima imagem de tolerância e cordialidade. O palco político não tem de ser uma arena romana, onde se sucedem combates de gladiadores encarniçados.
Passados 51 anos sobre as primeiras eleições livres, teremos de convir, se formos chamados à razão, que pouco aprendemos sobre a conveniência de debates saudáveis, onde impere a sensatez e seja banida a má-educação. Os nossos políticos julgam-se inimputáveis, podem ser grosseiros e desbocados, rasteiros e sem decência. Porque o verniz é de fancaria, quebra-se com facilidade, deixando à vista as unhas mal-cuidadas, num desmazelo evitável. Ao toque singelo de espadachim, bolsam o vomitório de inconveniências e rudezas. E mostram ao que vêm. Oportunismo, hipocrisia, comércio de votos.
Nessa bruteza, Ventura segue à frente no pelotão, sem adversário com quem competir. Deixa os concorrentes as léguas. Em tudo o que mexe, André atira. Vitupera tantos, que o erro só pode ser seu. Sem polimento e nada original, corre em pista própria, na expectativa de um eleitorado fiel, descontente e saudosista.
Para concluir, os frente-a-frente nada trazem de novo e pouco alteram o xadrez. As peças – os reis e as rainhas, os peões e os cavalos – mesmo novas, estão gastas. A todas falta o essencial, o único predicado que faz a diferença e por que esperamos, como doente que aguarda a cura: o rasgo e o carisma.
O produto que entrava no ciclo produtivo das peças que punham em andamento engrenagem oleada está descontinuado. A fábrica faliu e a fabriqueta que mal a substitui está insolvente. O crédito mal-parado que a banca lhe forneceu está por cobrar. As dívidas à Segurança Social e à Autoridade Tributária acumulam-se. Pecadilhos proporcionados pelas facilidades concedidas ao mercado livre.
Mas juntemos ao rasgo e ao carisma, o músculo e o nervo, que ajudarão a compor um novo líder, mais robusto e empreendedor. Vinha mesmo a calhar para impedir outro “apagão”, que o gato assanhado e lesto alferes de infantaria, por artes mágicas transformado em ministro, em conferência de imprensa, já garantiu, pressuroso, que situações semelhantes não se repetirão.
Confiemos em tão sábias palavras de personagem tão clarividente.
(foto DR SIC Notícias)