O delírio dos turvos

Endomingar-se nas grandes cimeiras e dar de penhor a fatiota, é coisa de gente menor, no tamanho e no carácter. A prática de portas abertas é hipócrita, na medida em que os responsáveis sabem da gravidade social e económica das suas consequências.

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  • 15:38 | Segunda-feira, 21 de Abril de 2025
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A comunicação social noticiou que “governo PS abriu a porta a 120 mil imigrantes sem verificar registo criminal“. Parece-me mal que assim tenha acontecido, tão ligeiro e breve, como me parece um abuso idiota que Nuno Melo, o alferes de infantaria, tenha feito da dita irresponsabilidade um perigo para a segurança nacional, matéria que, pela sua importância, devia ser assunto de regime, imune às querelas eleitorais.

Do 8 ao 80, vai a distância que separa a contenção dos lúcidos do delírio dos turvos. Fora esta extrapolação, doente pelo exagero – um berlinde nas mãos fáceis do guerrilheiro centrista -, o que verdadeira importa é a política de portas escancaradas à imigração.

Ao que parece, a autorização de residência automática não analisou o cadastro no país de origem, desleixo incompreensível, falta de rigor escusada.


Sei que a eles, na sua maioria, estão reservados os trabalhos mais pesados – nas limpezas de madrugada, na recolha do lixo, na apanha ilegal de ameijoas, no trabalho nas estufas, na construção civil -, os que os nacionais – beneficiários de apoios sociais, sem fiscalização, que lhes bastam – rejeitam, e que sem o seu esforço não se realizariam, ficando o país emporcalhado, sebento e fedorento.

Ainda assim, prefiro o modelo das entradas controladas, é mais humanista, mais respeitador dos direitos de quem vem, em busca de outro mundo, fugindo do seu e dos seus.

Prefiro um modelo de entrada controlado, na medida exacta das nossas necessidades, dirigida aos sectores mais carenciados de mão-de-obra, que não alimente a infâmia das filas de desesperados às portas da AIMA – retrato terceiromundista -, que não engrosse a lista de mendigos, que não dê a mão e o braço ao trabalho de escravos, que proporcione condições dignas de assistência. Que integre e que inclua, de verdade, e que não seja apenas e só um bom número para as estatísticas. Um modelo que condicione as entradas às autorizações de residência e expectativas de trabalho.

Permitir a livre entrada, e não assegurar tratamento e condições de subsistência e sobrevivência favoráveis, só é entendível à luz de ideologias falsamente igualitárias e da tacanhez de preconceitos desbotados. Só fica bem dizer que o nosso país acolhe todos, se Portugal reunir condições objectivas para receber todos.

Endomingar-se nas grandes cimeiras e dar de penhor a fatiota, é coisa de gente menor, no tamanho e no carácter. A prática de portas abertas é hipócrita, na medida em que os responsáveis sabem da gravidade social e económica das suas consequências.

Aos que argumentam que uma política assim promove as redes subterrâneas de tráfico humano e o enriquecimento de uns tantos, eu respondo que só assim será se o Estado for relapso, não pretendendo deixar de ser apenas um zeloso cobrador de taxas e impostos. E que se assuma como entidade coerciva, vigiando e punindo severamente quem se aproveita da desgraça alheia.

Custa-me que em nome de uma pretensa igualdade, se dê esperança, se emprestem promessas, e se conduzam seres humanos para um destino pior do que o que os fez abandonar o país de origem, sabendo que o nosso não tem infraestruturas nem equipamentos para receber bem tanta gente. E depois é vê-los por aí, encostados, sem nada que fazer, sujeitos ao que aparecer, vendendo trabalho por um vintém, a honra por um pataco.

Custa-me ver esta esquizofrenia das esquerdas, sim, das esquerdas, porque foi com elas que, em nome da tríade, Solidariedade, Igualdade e Fraternidade, nunca tão subvertida como agora nos seus alicerces fundacionais, este teatro de fantoches e marionetas esgotou

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Publicado em Opinião