Nove horas de um dia chuvoso, encontro marcado com Zeca Afonso, num apartamento da Solum cedido por um amigo sempre que ele vinha a Coimbra fazer tratamentos.
Lá íamos nós, eu a Isabel Margarida e o Robalo, sócios fundadores do Jornal académico, a Cábula entrevistar o Zeca. O silêncio que nos acompanhou durante todo o percurso era sinónimo da importância do momento!
Levantou-se cumprimentou-nos, dobrou a manta e iniciámos a conversa sobre o tempo, acompanhada de um chá quente e biscoitos de manteiga.
Não houve perguntas, a conversa fluiu como se ali estivessem cinco amigos de longa data. Falou dos tempos de estudante quando calcorreava as ruas da Coimbra. Relembrou episódios do seu tempo de estudante, alguns deles hilariantes e outras carregados de emoção… Realçou a importância da música de intervenção como arma contra fascismo… Falou da sua experiência como professor e da primazia da educação e da cultura na construção de uma sociedades com cidadãos livres e intervenientes… Falou da doença e da morte…
Falou, falámos entre goles de chá e biscoitos que se desfaziam na boca…
Despedimo-nos com um abraço e o caminho de regresso, já sem chuva, foi feito também em silêncio como se cada um de nós tivesse receio que as palavras quebrassem a magia daquele momento.