A via sinuosa de Aquilino

A via sinuosa que trilhou foi-lhe adversa, sim, nas contrariedades e atribulações que enfrentou vida fora – e foram tantas! – mas também foi o caminho já não ziguezagueado, mas sim recto, coeso e coerente, passo a passo trilhado, do Homem de lutas, de causas e de modelar verticalidade, bem como o de Escritor, em direcção à consagração como nome maior do panorama literário português do século XX…

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  • 18:50 | Sexta-feira, 07 de Fevereiro de 2025
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Há uma breve e premonitória citação do final de “A Via Sinuosa”, quando o senhor padre Ambrósio (um outro eu de seu legítimo pai, o Padre Joaquim Francisco Ribeiro), mestre de Libório Barradas (alter ego do jovem Aquilino), justifica e desculpa a irreverência do seu discípulo Libório, perante o fidalgo Malafaia, concitado no envolvimento amoroso com sua bovariana mulher, Estefânia Malafaia, cito:

“O homem é uma folha, senhor, no tempo que voa! Mas digne-se Vossa Excelência considerar o trajecto deste moço até a completa juventude, destrambelhadamente pio e irreverente, casto e hereditariamente sensual, laborioso e no fundo intoxicado por uma vaga filosofia que tudo devolve ao nada, esforço, bem ou mal, cultura ou incultura … até dar em ateu ou coisa parecida, republicano, epicurista! Para onde correrá a via sinuosa? Não sei, mas estou em jurar que o meu discípulo será bem desgraçado!…”

Nesta breve sinopse do punho do próprio Aquilino sobre as suas efabuladas primícias, felizmente não se cumpriu o augurado ladário de desgraças.

Ele próprio, por seu pulso o exorcisou, como escreve no romance autobiográfico, “O Homem que Matou o Diabo”, publicado em 1930, e simbolicamente esconjurou a malapata e o infortúnio que até aqui haviam sido seu mor calvário e tormento.


A via sinuosa que trilhou foi-lhe adversa, sim, nas contrariedades e atribulações que enfrentou vida fora – e foram tantas! – mas também foi o caminho já não ziguezagueado, mas sim recto, coeso e coerente, passo a passo trilhado, do Homem de lutas, de causas e de modelar verticalidade, bem como o de Escritor, em direcção à consagração como nome maior do panorama literário português do século XX…

… que Aquilino alcançou porque não cansou nem soçobrou aos muitos escolhos e demais atritos que as vicissitudes da vida lhe carrearam carreirais afora.

 

(Ilustração de Stuart de Carvalhais para a edição especial de 1960)

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Publicado em Opinião