Em 1952, Aquilino Ribeiro desloca-se ao Brasil onde é alvo das maiores homenagens públicas, recebendo do governo a Comenda do Cruzeiro do Sul.
Em Agosto desse ano, a Bertrand publica o livro “Aquilino Ribeiro no Brasil” onde, entre outros, estão compulsados os discursos de políticos, escritores e académicos que lhe prestaram tributo e preito.
Deixo uma breve citação do discurso inaugural de um grande vulto da cultura lusíada, o médico, político, republicano, democrata e escritor, Jaime Cortesão, no Rio de Janeiro a 29 de Maio desse ano:
Aquilino viu a luz numa aldeia da serra, de que ele próprio disse “rude e ascética, frutificando pelo suor do homem”. E apenas descerrou os olhos deslumbrados para o lume do dia, o génio agreste das aldeias da Beira, da Beira Alta, talvez o último sátiro remanescente do paganismo lusitano, saiu das brenhas e entre risonho e amargo, diabólico e inocente, curvou-se sobre o berço e com língua inegável murmurou:
— Hás-de escrever, como se em ti falasse a própria voz da terra. Amassarás as tuas criações, em barro de miséria, com lágrimas, sarcasmo e sede de justiça. Serás o rapsodo, quer da epopeia rústica da serra, quer dos rebeldes, dos inconformes, dos incompreendidos, dos falhados da vida. Na tua prosa, feita com a seiva dos montes, os bosques hão-de rumorejar, inquietos; hão-de palrar, alvissareiras, as águas da Primavera; e as aves erguer seus cantos – árvores, pássaros, ribeiros, com o voluptuoso apelo da natureza para a defesa da vida.”