Acordo Ortográfico à parte, com os seus defensores e os seus opositores, ambos com validadas e assertivas razões, quase meio século antes da sua ratificação (XIº GC sob a regência do primeiro Ministro Cavaco Silva sendo ministro da Educação Roberto Carneiro) Aquilino Ribeiro, na Revista “Beira Alta”, 1943, sob o título “Beira Alta – Notas Etnográficas” na parte em que abordou a língua beiroa, escreve com a habitual genialidade, este belo naco de prosa:
É cheia de expressões admiráveis, breves e directas, a traduzir o movimento, a cor, e os estados de alma. Tem o horror do esdrúxulo, numa tendência louvável à facilidade e ao bom gosto vocal. Obstina-se em despeito de mestres e gramáticos em dizer tempera e azafama. Pronuncia o x à maneira galaica xave, xão, como estava na índole primeva.
Acabará por desbotar, extinguir-se, e converter-se no idioma pilho, compósito, que para aí se fala, e se tornou oficial mediante a cumplicidade da ciência lexicológica.
Se por um retorno do escrúpulo se quisesse salvar a língua de bastardias desonrosas na sintaxe e de intromissões verbais desnecessárias haveria que chamar um desses labrêgos da Beira Alta e pô-lo na Faculdade de Letras a falar do cebolinho, do codo, da tosquia das ovelhas, da natureza e do mundo que tem dentro de si, em suma, haveria que dar a ler aos candidatos a mestres o livro imenso, vernáculo, português de lei, que é um desses beirões de tamancos e polainas de junco.”
O que dizem os defensores do AO: