Uma homenagem a todas as mulheres que foram e continuam a ser vítimas de violência doméstica.
A minha tia Esmeralda era uma mulher pequenina, magrinha, de olhos azuis e cabelo aloirado que trazia sempre apanhado num poupo coberto por uma rede.
Vestia de forma tradicional, nunca usou calças, sempre saia travadinha e quase sempre com um avental por cima que só tirava em dias de festa.
Nos dias de festa a minha tia e o marido eram os primeiros a começar o baile e muitas vezes os últimos a sair, contagiando todos com a forma e a alegria com que corriam e rodopiavam na roda.
A minha tia Esmeralda era uma mulher alegre, bem-disposta e com um sentido de humor particular, nada comum às mulheres daquela altura.
A minha tia Esmeralda tinha uma burra, que carregava com uma dúzia de peças, lençóis, toalhas, panos da cozinha e outras miudezas que vendia às mulheres nas aldeias vizinhas.
O negócio permitia-lhe desenvolver uma cumplicidade muito grande com as suas freguesas e muitas vezes facilitava o pagamento para que adquirissem aquela toalha que iam pôr na mesa no dia de Páscoa.
A minha tia Esmeralda não tinha filhos, era uma mulher que ganhava o seu próprio dinheiro, tinha sentido de humor e gostava de brincar tanto com os mais pequenos como com os mais velhos.
A minha querida tia Esmeralda morreu há trinta e nove anos vítima de violência doméstica.