Na rábula mal contada dos “encontros clandestinos” entre Montenegro e Ventura, não é fácl dilucidar a quem assiste a verdade dos factos.
Certo, porém, é que tendo acontecido entre eles o que quer que fosse, ditaria a sensatez e o decoro que não se fizesse a barrela da roupa suja e encardida na praça pública. Assim como ditaria que o tivessem feito às claras, pois quem não deve não teme.
Montenegro quis ser lobo, mas deu-se mal em tal pele. Ventura, com aquele ar de “Candidinho”, desfeiteado, despeitado como um adolescente enganado pela miúda do liceu, quando percebeu que Montenegro definitivamente o não queria, como uma comadre zangada veio contar a sua verdade.
A sua verdade na qual poucos acreditam, pois é já um lugar comum ouvirmos que a verdade de André de hoje não é verdade do Ventura de amanhã e que a sua realidade é quase sempre – passe o eufemismo – uma ficção científica efabulada de acordo com o oportunismo circunstancial.
Se um criou fama de “mentiroso”, o outro mostra-se suficientemente leviano no seu agir e ingénuo quanto baste no lidar ligeirinho com Ventura.
Afinal, quantas reuniões clandestinas tiveram? Uma, três, cinco? Para que serviram tantas reuniões se “o não é não” e a irrevogabilidade das posições tantas vezes foi mediaticamente jurada?
E já agora, porque não se chamam ambos a uma Comissão Parlamentar de Inquérito (talvez a da ética) para serem ouvidos pelos deputados, com transmissão directa para o país inteiro?
E Rui Rocha, que Ventura apoda de “idiota útil” no charivari das reuniões, não tem nada a dizer? Assenta-lhe o barrete? Quem cala consente… diz o povo que é muito ilustrado em matéria de comadres.
Será que toda esta “marmelada mal-cozinhada” não dá razão ao secretário-geral do PS ao afirmar que “esta direita não é de confiança!”
Montenegro e Ventura fazem-me lembrar D. João V e a Madre Paula do Convento de S. Luís de Odivelas, e os túneis por el-rei construídos para, às escondidas, noite adentro, se ir banquetear nas túmidas carnações daquela…
Disto tudo o que fica? Uma vergonha para ambos, a descredibilização dos dois e da classe política que personificam.
O bruáá de Ventura contracena com o silêncio de Montenegro, a tentar passar pela tempestade chuvosa sem se molhar. Ao fazê-lo, por mais que repudie os jornalistas e lhes queira ensinar quais as “boas questões” que lhe devem colocar, afunda-se cada vez mais na teia urdida por este bailado a quatro pernas.