A manifestação que o Chega promoveu ontem em Lisboa, na avenida Almirante Reis, sob o lema “Salvar Portugal”, contra os imigrantes e a imigração, serviu uma vez mais para promover o ódio, a violência, a xenofobia e o populismo de extrema direita que está na sua génese. E, claro, para dar ao seu líder, lindamente embrulhado numa bandeira de Portugal, a atenção mediática de que precisa para existir.
Num país onde impera a democracia tem o direito de o fazer. Num país onde imperasse o despotismo que preconiza, só o poderia fazer se fosse o poder instituído… e protegido.
Nas imagens que as televisões mostraram, viu-se uma musculada presença de polícia de intervenção, apetrechada, de bastões e escudos de protecção.
Com que finalidade ali estaria? Para evitar desacatos, naturalmente. Ou eventualmente para garantir a integridade dos manifestantes do Chega e para evitar confrontos com os contra-manifestantes, discordantes da essência desta manifestação, num direito democrático que também lhes assiste.
Toda a manifestação que para o ser carece de protecção policial é digna de desconfiança e de desapreço. Ademais, assim resguardada, quase parece acobardada e a suscitar a legítima dúvida contra a ampla justeza dos seus intentos.
Nenhum manifestante do Chega foi preso. Nem sequer aquele cidadão que se viu nas imagens a agredir os dois irmãos.
Perante situações deste teor, fácil é perceber o porquê de o Chega querer as forças policiais do seu lado e sonhar com uma pasta de Administração Interna, num governo futuro…
Fácil é também perceber o afã “desinteressado” do Chega na luta pelo justo subsídio de risco das forças de segurança.
Não queremos é perceber que a “má” polícia para uns possa ser a “boa” polícia para outros, até e porquê acreditamos nas forças de segurança deste país…
Difícil é perceber o silêncio anuente da ministra da Administração Interna, em primeira e derradeira instância, a impávida e aparentemente alheada responsável pela acção desencadeada.