Estes jovens que partem…

Recordo que ninguém emigra por gosto. Emigra-se por necessidade e por ausência de alternativas e de horizontes futuros dadas pela “madrasta” pátria.

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  • 16:14 | Sábado, 24 de Agosto de 2024
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É terrível e temível o resultado de um inquérito feito a estudantes portugueses do ensino superior. 69% prevê emigrar assim conclua a sua formação académica.

O que é que isto significa? Que este país não é para jovens.
Que os jovens, por ausência de perspectivas futuras, abandonam Portugal.

Que sendo já um país com grave deficit demográfico, o que se prevê é um aumento exponencial desse recuo. A breve trecho seremos um país de velhos. Mas ao que observamos em vários sectores, principalmente no da Saúde, este país também não é para velhos.


Os custos de formação / ano de um estudante do ensino superior (sem esquecer os anos que se lhe antecedem) ascendem a milhares de euros. Ou seja, os portugueses investiram uma soma considerável na formação académica dos seus futuros quadros. Que irão ser os quadros futuros de um qualquer país da aldeia global, que não despendeu um cêntimo na sua formação.

Este cenário carreia em si uma pluralidade de variáveis e suas consequências, sendo a mais inquietante a de, a curto prazo, termos um país sem matéria cinzenta suficiente para enfrentar os desafios tecnológicos do mercado.
Ou seja, o oito e o oitenta. Passamos de um extremo em que os jovens são tão “maltratados” pelo mercado de trabalho, pela precariedade dos vínculos laborais, pelo desemprego, pelos baixos salários, a outro, em que não os teremos, porque pura e simplesmente partiram.

Recordo que ninguém emigra por gosto. Emigra-se por necessidade e por ausência de alternativas e de horizontes futuros dadas pela “madrasta” pátria.

Em breve atingiremos um patamar estatístico em que não existirá oferta de mão-de-obra qualificada no mercado, quando hoje não há procura. E quando aí chegarmos, não vamos esperar que os jovens que “exportámos” regressem ao lar. Porque, entretanto, criaram um novo lar no país que os acolheu, contribuindo, decididamente para a riqueza e crescimento demográfico daqueles que lhes abriram as portas do mundo profissional.

Que país é este que faz desta diáspora, há séculos, cenário, palco e intriga das vidas?
Que país é este que se descredibilizou de tal forma perante a sua juventude recém-formada que em cada 100, 69 vira-lhe as costas? Mas vira-lhe as costas porquê? Porque a Pátria, há muito, para eles perdeu rosto e identidade. A Pátria só tem costas!

E depois admiramo-nos da saudade ser tão lusitana… quando devíamos era execrar a cegueira de gerações de governantes que apenas sabem o verbo governar na 1ª pessoa do singular, conjugação pronominal reflexa:

Eu governo-me.

 

Nota: Escrevi este texto em Agosto de 2012 e, pela sua actualidade, aqui o deixo.

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Publicado em Opinião