Todos nós somos potencialmente idadista. “O idadismo crava-nos as garras através da negação” (Ashton Applewhite). Reconhecer que somos idadistas, é o primeiro passo para que possamos mudar a nossa atitude e tornarmo-nos idadista em desconstrução. Este é o grande objetivo da Campanha Global Contra o Idadismo, da OMS, mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos em relação à idade e ao envelhecimento.
É difícil livrarmo-nos do idadismo, do racismo, do sexismo, do capacitismo… mas estaremos mais perto de o conseguir, se reduzirmos os níveis de ignorância e afastarmos as fobias e os estereótipos que alimentam os preconceitos.
O idadismo, atitude de discriminação e preconceito com base na idade, está enraizado nos nossos sistemas sociais e económicos. Provavelmente, onde mais se reflete o idadismo é no mundo do trabalho, “és muito novo para exercer a função x, não tens experiência” ou estás demasiado velho para te adaptares aos novos desafios”.
A discriminação no local de trabalho é a primeira forma de discriminação que os homens brancos sofrem. A Fundação Francisco Manuel dos Santos, como é seu timbre, está a desenvolver um trabalho de excelência no que concerne ao conhecimento que é preciso ter relativamente ao idadismo, para que, de forma informada, o possamos combater.
Não me canso de referenciar, pela importância que tem no meu percurso, o livro “Discriminação da Terceira Idade” (2011), da autoria da investigadora Sibila Marques.
Na semana passada, a FFMS, disponibilizou uma entrevista brilhante com Ashton Applewhite, ativista e escritora americana que abordou a questão do idadismo no programa «Isto não é assim tão simples». Applewhite desfez muitos dos mitos sobre o envelhecimento e deu interessantes sugestões para combater o idadismo. Foi também publicado o estudo “Compreender o Idadismo no Local de Trabalho”, evidenciando que as decisões de recursos humanos e de pessoal que envolvem trabalhadores mais jovens e mais velhos são frequentemente enviesadas em função da idade.
“Renovação geracional” é a justificação oficial para as exonerações. Em relatório publicado em junho 2021, a provedora referia que tinha encontrado estruturas «obsoletas» e «estruturas pessoais entretanto envelhecidas», sendo necessária «uma renovação geracional e funcional».
A atitude da senhora Provedora de Justiça é similar à de muitos CEO de grandes companhias, assume a experiência como uma desvantagem, uma ”obsolescência”, em relação aos outros, não se coibindo de assumir políticas e atos de gestão idadistas.
No limite, num simples exercício de se olhar ao espelho indagar-se-ia se deveria ter assumido o atual cargo aos 60 anos, renovado o mandato aos 64 e terminá-lo quando tiver 65 anos. A sua experiência será, por isso mesmo foi nomeada e renomeada, uma vantagem. Certo? Senhora Provedora faço minhas as palavras de Ashton Applewhite: “É uma loucura viver num mundo onde a experiência se torna uma desvantagem.”. Não é aceitável, em quaisquer circunstâncias, que alguém seja preterido em função do critério idade. Os “velhos”, com 55 anos, dispensados eram incompetentes? Seria interessante conhecermos as avaliações de que foram alvo, ao longo das suas carreiras. A experiência na justiça não tem valor? A Provedoria de Justiça pode ser idadista? O que pensa o Governo desta clara discriminação?
A partir de agora, todas as pessoas que atinjam os 55 anos serão afastadas das suas funções? Será aceitável que em qualquer estrutura do Estado, a partir dos 55 anos se seja considerado velho e, como tal, dispensável? Quanto mais não seja, por uma questão de coerência mínima, que sentido faz, senhora Provedora, alegando renovação, com base na idade, dispensar colaboradores com menos 12 anos que a senhora?
Esta má prática legitima atitudes idadistas que impedem as pessoas de uma certa idade de serem chamadas para uma entrevista de emprego ou que quando a conseguem, a sua oportunidade termina ao entrar na sala ou ao ligar a câmara da videoconferência.
As estruturas do Estado têm o dever de combater todas as formas de discriminação e preconceito, não as podem alimentar e potenciar.
Senhora Provedora, os estudos indicam que a produtividade aumenta com equipas multigeracionais motivadas, onde impera o respeito por todas as idades e se vivencia um clima intergeracional positivo.