O Portal da Queixa tem recebido inúmeras reclamações de utentes a relatar constrangimentos no atendimento das urgências hospitalares. Desde o início do ano, foram apresentadas mais de 2.500 reclamações contra as entidades de saúde públicas e privadas. A grande fatia das queixas é dirigida aos hospitais e maternidades. A especialidade de Obstetrícia é a mais visada.
A crise que assola as urgências hospitalares do país não é nova, mas também está longe de ficar sanada, com a agravante de alguns casos terem um desfecho trágico, como…
A demora no atendimento – com esperas a ultrapassar as doze horas, em vários casos relatados pelos utentes -, e a falta de assistência, com utentes a ter de ligar para o 112 à porta das urgências por não conseguirem ter assistência, são episódios que se repetem nos últimos anos.
A situação caótica observada de norte a sul do país tem sido denunciada junto do Portal da Queixa. À plataforma têm chegado inúmeras reclamações registadas por utentes que têm enfrentado vários problemas, sobretudo nas urgências.
Entre as especialidades mais reclamadas, nos setores público e privado, é a Obstetrícia que lidera com 15% das reclamações. Já a especialidade de Pediatria motivou 10.6% das queixas dos utentes.
Principais motivos de reclamação
A demora no atendimento domina os motivos das reclamações, seja no privado ou público, gerando 21% das denúncias feitas este ano. Na origem de 15.4% esteve o mau atendimento da unidade de saúde e a falta de informação foi o problema reportado em 10.5% das ocorrências.
Das reclamações relacionadas com os serviços de urgência, as queixas vão desde as horas intermináveis na sala de espera (média a ultrapassar as 12 horas), a incapacidade de o hospital responder a casos urgentes, o mau atendimento, a falta de condições para receber tantos utentes e o fecho inesperado da urgência hospitalar.
Dos casos denunciados no Portal da Queixa, são inúmeros os relatos de experiências negativas.
Sara Martins é uma grávida que, em julho, denunciou a recusa de atendimento da urgência de Obstetrícia do Centro Hospitalar de Leiria: “Uma grávida com falta de ar, tontura e com infeção respiratória (Covid) a não sentir a criança e recusaram mesmo atender, é uma vergonha este país.”
Na reclamação dirigida, esta semana, ao Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca, Nuno Coelho queixou-se de uma demora no atendimento de nove horas: “Como é possível um atendimento de urgência demorar 9 horas? As urgências estiveram várias horas sem chamar uma única pessoa, não se entende como são escalados os médicos, este hospital não tem urgências, as pessoas são encaixotadas e aguarda-se que ou desistam ou a sua situação piore para que efetivamente se faça algo.”
Maiores deficiências nas urgências de Obstetrícia
O plano de Verão para as urgências de obstetrícia/ginecologia foi acordado entre o Ministério da Saúde, os diretores clínicos e os presidentes dos conselhos de administração dos hospitais envolvidos, no entanto, os maiores constrangimentos de escalas de profissionais de saúde e os serviços fechados continuam a verificar-se em Lisboa e Vale do Tejo nas áreas da obstetrícia e pediatria.
Recorde-se que, em 2022, as deficiências destes serviços resultaram na morte de um bebé no Hospital das Caldas da Rainha. E outros casos graves se seguiram, mais recentemente, o caso de um grávida com um aborto espontâneo que viu ser negada a assistência também no Hospital das Caldas da Rainha.
De referir que, os utentes podem consultar, desde o final de junho, os serviços de urgência disponíveis nos próximos sete dias através de uma página interativa no portal SNS.