À Joaninha…
Era o fim da adolescência. O corpo das meninas em transformação Os cabelos soltos, encaracolados, rebeldes como de rebeldia tinha de ser urdido o tempo agrilhoado. Uns prostrados e de joelhos, lambendo as pedras cortantemente pontiagudas dos dias cinzentos Outros levantando alto a bandeira da esperança, sabendo que os pulsos poderiam se agrilhoados e os cárceres antigos a futura morada. Era o fim da adolescência.
Bastava atravessar a rua, descer as escadas e as salas de aulas ou os corredores marmoreados recobriam-se de variegados tons de verde espelhados nas água paradas do lago, onde se passeavam cisnes visitados por vaidosos pavões. Mas, dizia eu, Da procura de respostas metafísicas à essência da vida (eu nunca as encontrei) Passavam às inconsequentes paixões do momento Rindo com o riso cristalino de quem tem um livro em branco por escrever. Era o fim da adolescência
Percorriam as ruas da cidade em diálogos pautado pelo ritmo de passos ligeiros no empedrado dos passeios. Agora tentavam descortinar o futuro O impulso e a irrequietude de uma conduziam à revolta, à fratura, à implosão duma sociedade caquética (a brigada do reumático mandava e se mandava!) Na certeza do renascer da Fénix. Um mundo mais justo e igualitário. A outra, ponderadamente sensata, (como se pôde ter aquela sensatez aos dezasseis anos?) Replicava que a luta pelo mundo justo, igualitário, com compaixão pelo mais fraco era tarefa de todos os dias, dos pequenos atos do quotidiano às grandes decisões.
Como estavas certa e assim pautaste a tua vida! Ambas acreditavam que um mundo novo – não tardaria a despontar – seria possível. Era o fim da adolescência.
Separadas, por quilómetros e quilómetros de estrada, Celebraram juntas o dia claro e limpo. O futuro começava então …
Voa em paz, Joaninha