A Comissão Parlamentar de Inquérito reunida ontem, dia 21 de Junho, para ouvir Daniela Martins, a mãe das meninas que receberam tratamento dado pelo SNS num caso vital, não foi coisa digna de se ver e em nada contribuiu para a dignificação daquele órgão e dos seus protagonistas.
Ao fim daquelas muitas horas de Inquisição, a depoente, contida, desabafou ter-se ultrapassado o “limite da civilidade e da humanidade”. Foi muito educada…
Não consigo acreditar – provem-me o contrário – que houvessem deputados preocupados e interessados no elevado custo dos fármacos que salvaram as duas gémeas.
As Comissões Parlamentares de Inquérito vulgarizaram-se. Cada vez são mais, pois a comunicação social dá-lhes imenso foco e realce – se fossem à porta fechada não teriam o impacto pretendido no charivari do “sangue na calçada”. Por isso, e pelos momentos de glória que propiciam tornaram-se recorrentes e quase um “fait divers”.
Os deputados, por horas justiceiros, nalguns casos, parecem extrapolar daquilo que é em essência um instrumento de fiscalização do Parlamento, que tem “por função vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os atos do Governo e da Administração”, para executarem os seus “números”, cientes da presença das televisões para aquilo que terá como objectivo, se formos optimistas, o debate alargado da sociedade civil. A maior parte das vezes não sendo mais que um “julgamento público” em directo.
Ontem, assanhados na feroz senda justiceira, alguns deles quase correram o risco de se assemelhar a um bando de predadores a esquartejar a presa com requintes de insaciável avidez.
Do Chega tudo se espera. Mais decoro e decência se esperava do PSD, do CDS e do BE, alinhados por análogo diapasão. Nalguns/nalgumas, o gáudio quase sádico, refulgia-lhes nas faces. Um deprimente e lastimável espectáculo que está a fazer escola e a alargar-se como um vírus àqueles que, noutras circunstâncias, tão críticos dele são.
Mas, em verdade, percebeu-se que quem ali foi “julgado”, não foi a Mãe – Daniela Martins, foram pilares fundamentais da Democracia, que precisam de estar na lama para dela se erguerem por mãos dos messias do oportunismo, como Fénix renascida, figura muito apreciada por um déspota italiano de má memória, que em Abril de 1945 acabou pendurado pelos pés, em Milão, depois de ser linchado pelo povo que oprimiu.