O antigo ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita disse que “o único excitado |é Marcelo | que quer sempre eleições”. Outros há que o consideram o principal factor de instabilidade da política portuguesa.
Vedetas essas muito eloquentes na retórica que usam, abusando da linguagem – como qualquer político que se preza – para, em cabriolas semânticas fazer passar o preto por branco e o vermelho por amarelo. Um arco-íris…
Pela voz do primeiro ministro, Portugal vai de vento em popa, as plurais promessas eleitorais que o guindaram ao poder, em aliança com o CDS e o PPM, estão todas quase cumpridas. Este “quase” como advérbio de modo e de intensidade dá muito jeito.
Os médicos estão quase aquietados, os professores quase pacificados, as forças de segurança quase aplacadas e etc. e tal, por aí fora.
As reuniões com os diversos sindicatos alongam-se indefinidamente. Não pode ser para hoje, mas será para amanhã, é a mensagem que trazem dessas maratonas, agora que a oposição de rua está em banho Maria.
O primeiro-Ministro promete governar sozinho, com os seus 28,83% de votos conquistados contra os 27,98% do PS, a AD (PSD, CDS, PPM) com 80 deputados e o PS com 78. Como diria o outro, “É poucochinho!”. E isto, se não houver convergência, que e de momento, não parece estar muito próxima. E acrescenta sorridente: “Não é arrogância, é pura responsabilidade!”
Só ele poderá parecer confundir por conveniência os dois substantivos, pois arrogância significa altivez, orgulho, soberba, jactância, presunção, vanglória, insolência, superioridade, bazófia, convencimento, empáfia, enfatuamento, imodéstia, pedantismo, pesporrência, sobranceria… enquanto que a responsabilidade é sensatez, seriedade, juízo, cabeça, consciência, critério, reflexão, siso, tento, tino, razão, retidão, discernimento, equilíbrio, dever, obrigação, incumbência, encargo, tarefa, compromisso, atribuição, comprometimento, cargo, cuidado, conta, parte, supervisão, mão, mando.
Mas convenhamos, Montenegro é suficientemente inteligente para não cair nessa esparrela confusa, apenas com esta espécie de “calembour” pretendendo que os outros nele caiam, pelo trocadilho deixando o melhor para si e o pior para os seus opositores.
Assim, com Montenegro fica a sensatez, seriedade, juízo e com Pedro Nuno Santos a bazófia e o pedantismo.
Haverá incautos que acreditem nesta retórica e, citando Heidegger, … “a linguagem pode descer ao nível de um simples meio de pressão…”, ou parafraseando Barthes, “não tem nenhum valor de comunicação, mas apenas de intimidação”, isto é, o vazio da retórica ou, se preferirem, a retórica do vazio, ponto morto no qual a comunicação se deteve.