Partidas e chegadas…

Depois de descermos até à Régua, parámos na estação para apreciar o movimento das pessoas. Nós gostamos disso. De estações, de aeroportos de lugares com gente, que possamos observar e imaginar as histórias que cada um carrega.

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  • 12:32 | Domingo, 02 de Junho de 2024
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Onze da manhã, de um domingo em que à descoberta da Douro, perscrutamos o rio que corre em cada um de nós. Um rio que vai trilhando o seu próprio leito à medida que cada um dá um pouco mais de si ao outro.

Depois de descermos até à Régua, parámos na estação para apreciar o movimento das pessoas. Nós gostamos disso. De estações, de aeroportos de lugares com gente, que possamos observar e imaginar as histórias que cada um carrega.


 

Chamou-nos a atenção um jovem casal de namorados. Fizemos um jogo proposto por mim a que prontamente todos alinharam, iríamos inventar uma história. Começámos pelos nomes, ele seria Rafael e ela Marina.

O Rafael era alto, de cabelo comprido, com um piercing na orelha e uma tatuagem discreta entre o polegar e o indicador direito. O Rafael que imaginámos teria entre 23 e 25 anos, aluno de uma faculdade ligada às artes. O seu ar desleixado mas harmonioso mostrava que ali havia uma preocupação estética. Era um rapaz calmo e afetuoso, que acaricia o cabelo e colocava a mão na cintura da sua rapariga com leveza e cuidado. Devia ter tido uma mãe que o pegou ao colo e que o acariciou com a mesma suavidade com que ele toca agora o corpo da sua amada. Concluímos que devia ser um rapaz que já tinha viajado muito pelo número de insígnias de diferentes países e cidades que tinha coladas na mochila. Parecia feliz, apaziguado e de paz com a vida…

A Marina era uma menina de pouco mais de vinte anos, vinte e dois, vinte e três, talvez. Pequena, de tez branca e angelical. Tinha uns olhos verdes que me fizeram lembrar os olhos da Joaninha das Viagens da Minha Terra, do Almeida Garrett. Tudo está naqueles olhos verdes. «Joaninha, porque tens tu os olhos verdes? Fixei-me nos olhos e nas mãos pequenas e harmoniosas para a imaginar. A minha Marina era aluna de Direito, aplicada, mas para quem a vida não se resumia aos calhamaços de direito. Falava com as mãos, as mesmas mãos que violavam os botões da camisa para se espraiarem como o rio que encontra o mar no peito do seu rapaz. A Marina, gostava de cinema, adorava cinema francês e um dos seus filmes preferidos era O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Marina fala deste filme a todos os amigos e sabe de cor a sinopse que acompanha o DVD. A Marina ama o seu Rafael, o Rafael ama a sua Marina… Vaticinamos que vão ter pelo menos dois filhos. E depois? Depois logo se verá!

Entraram no comboio das 11.30 com destino a Campanhã. Antes de subirem o degrau da carruagem olharam para nós e sorriram. Até logo! Seguimos viagem…

Regressamos às nossas vidas, com os nossos rios a transbordarem de tantas emoções. Temos que abrir por algum tempo as comportas das nossas barragens para que o nível das emoções seja reposto. As nossas vidas têm que continuar com as suas órbitas, como o Sol e a Lua que apenas se encontram nos momentos de eclipse.

 

(Foto DR)

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Publicado em Opinião