A final da taça, o very-light e o erro do Presidente 

Abandonei o estádio durante o intervalo e durante anos não voltei a entrar num estádio de futebol. Aquela morte estúpida e a decisão do presidente da república, indiferente à tragédia e ao choque, causou-me tristeza. Penso que nestas situações não se pode "banalizar" a violência de qualquer adepto, ainda para mais tendo existido uma morte.

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  • 10:56 | Segunda-feira, 01 de Abril de 2024
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O mês de maio corria, o calor apertava e o Sporting, o meu clube, vinha jogar à minha terra no final da taça de Portugal.

Tal como todos os anos, aquele dia na Cruz Quebrada era um dia de festa, fossem os finalistas da taça da terceira, segunda ou primeira divisão,  os cafés e os restantes enchiam-se; a “Nova Marginal”, “o Caçador”, a “Arcada” ou a “Casinha” eram pontos de encontro e de convívio entre os locais e quem vinha de longe, ora comer num restaurante ora fazer um piquenique na mata do estádio nacional, era uma realidade que a todos enchia o coração!

Mas naquele dia, o jogo era entre os rivais Sporting e Benfica e aos meus 18 anos, tinha duas opções para ver o jogo; em casa do meu amigo Paulo Semedo junto do grupo de amigos ou ir ver ao estádio nacional o jogo; optei pela última.


Em 1996, o estádio tinha bancadas de pedra, era um pouco desconfortável, e como cheguei em cima do apito inicial,  fiquei junto à claque do sporting; a “juventude leonina”.

Quando o Benfica marcou golo, passados 30 segundos, vi uma espécie de foguete, vir quase na minha direção… e de repente vi um Homem que tinha sido atingido no pescoço por aquele foguete a morrer à minha frente. O cenário de pânico instalou-se, lembro-me de um rapaz ter tentado retirar o “projétil” do pescoço da vítima, mas de ter-se queimado na mão e de ter desistido. Os berros e os pedidos de ajuda eram ensurdecedores,  até que uma maca dos bombeiros apareceu e levou o Homem. De seguida a revolta e a raiva tomou conta dos adeptos e os cânticos para pedir a interrupção do jogo sucederam-se. Alguns membros da claque foram até às redes e arrancaram-nas na tentativa de invadir o campo de futebol. Entretanto chegou a polícia de choque evitando tal invasão.

 

O Presidente Jorge Sampaio presente no estádio nacional nada fez e ignorou o sucedido mandando prosseguir o jogo mesmo com a chegada do intervalo. Formou-se uma cratera sem multidão à volta do local onde se deu a tragédia. A cratera era visível de todo o estádio… o sangue sujava todos os assentos da dita “cratera”… era um cenário dantesco para quem sentiu como eu, que poderia também ter sido a vítima do very-light.

Abandonei o estádio durante o intervalo e durante anos não voltei a entrar num estádio de futebol. Aquela morte estúpida e a decisão do presidente da república, indiferente à tragédia e ao choque, causou-me tristeza. Penso que nestas situações não se pode “banalizar” a violência de qualquer adepto, ainda para mais tendo existido uma morte.

Desta final da taça de 1996 até aos dias que correm, as coisas melhoraram a nível do controlo da violência nos estádios de futebol mas, no entanto, não se evitou que o senhor que lançou o very-light mortífero em 1996 tivesse sido novamente detido num jogo no ano de 2018 entre o Chaves e o Benfica.

Muito há a fazer no âmbito do desporto para melhorar a segurança nos estádios, pois o espírito da final da taça, de convívio e harmonia no futebol,  é o que todos queremos.

Haja no futuro leis e justiça com essa finalidade!

Paulo Freitas do Amaral
Professor de História
Co-fundador do partido “Nova Direita”

 

(Foto DR)

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