A Caixa de Pandora

Deste desastroso resultado eleitoral terá o presidente da federação do PS, José Rui Cruz, de tirar ilações – se tiver capacidade política para tal, garantido que está o seu desiderato, continuar a ser deputado sem brilho nem destaque pelos corredores do hemiciclo. Uma campanha incapaz, acomodada, inepta e frouxa deu este resultado.

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  • 20:06 | Segunda-feira, 11 de Março de 2024
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E pronto, temos um milhão e picos de portugueses da extrema-direita. Os resultados obtidos por Ventura (o Chega é Ventura e Ventura é o Chega) mostram-nos como é tão facilmente possível o acriticismo triunfar no seio de tanto descontentamento, irritação e frustração por outros provocado.

No distrito de Viseu, o Chega, com 41.159 votos veio também evidenciar o conservadorismo crónico e adormecido desta região, apuração a que acrescem os 6.615 votos do partido de direita radical ADN, que terá beneficiado de muita ligeireza e iliteracia de eleitores, que terão confundido as siglas ADN com a AD. Coisa que a CNE e o TC, a seu tempo, deveriam ter profilacticamente acautelado.

A AD obteve 76.927 votos e o PS ficou em segundo lugar com 58.077 votos, invertendo o ciclo de 2022. A AD ganhou em 23 dos 24 concelhos do distrito de Viseu, tendo o PS apenas obtido vitória eleitoral no concelho de Cinfães.


Deste desastroso resultado eleitoral terá o presidente da federação do PS, José Rui Cruz, de tirar ilações – se tiver capacidade política para tal, garantido que está o seu desiderato, continuar a ser deputado sem brilho nem destaque pelos corredores do hemiciclo. Uma campanha incapaz, acomodada, inepta e frouxa deu este resultado.

Pelo contrário, a campanha feita pelo presidente da distrital do PSD – que ironicamente não foi eleito deputado sendo o 4º da lista – que culpa tem o “amigo” Pedro Alves disto? – redundou num excelente resultado, como já atrás escrevemos, a vitória em 23 concelhos do distrito. Este resultado tem o cunho e o empenhamento de Carlos Silva Santiago, que conhecemos há mais de duas décadas, sabendo do seu dinamismo, competência e visão. Esta não foi a vitória de Pedro Alves — que não deveria ser o número 2 da lista, mas sim o presidente da distrital —  que teve assim direito a uma viagem em 1ª classe, sem preocupações de maior. Também não foi a vitória de Inês Carmelo Domingos, que ninguém por cá faz a mínima ideia quem seja, nem conheça quais as suas relações vivenciais ou outras com o distrito.

O Chega elege dois deputados. Ou melhor, Ventura elege dois deputados, cujos nomes 99% dos que os elegeram ignorarão. Tivemos desde cedo a percepção de que Ventura elegeria um deputado por Viseu, um tal Tilly, de Seia, se não nos enganamos, que também tem tudo a ver com o território que lhe deu o voto…

Este cenário pressupõe, para as próximas autárquicas, a apresentação de um candidato ou dois a eleger por Ventura para a autarquia (eles agora fazem “bicha”). Não interessa quem sejam, virão nesta onda de crescimento e irão lá estar, que mais não seja para “chatear” Fernando Ruas ou João Azevedo, como agora “chatearão” e muito os 48 deputados eleitos por Ventura, que os portugueses democraticamente deram a um partido onde só por sarcasmo se falará de democracia.

Quanto ao cenário político do “the day after”, a seu tempo voltaremos, cientes de que se abriu a caixa de Pandora. Aquela que um milhão de portugueses tanto julgam apreciar…

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Publicado em Opinião