Os debates para além deles mesmos

Essas conversas, entre senadores da política e ilustres jornalistas, têm sempre, para além das avaliações escolares levadas para a televisão pelo Prof. Marcelo, o seu lado subversivo, até cínico, um alvo secreto a abater.

Tópico(s) Artigo

  • 12:25 | Sexta-feira, 09 de Fevereiro de 2024
  • Ler em 3 minutos

Os debates entre lideres partidários são essenciais, em democracia, para a formação do voto esclarecido e para o crescimento político da sociedade como um todo.

Em muitos países, alguns deles mais valorizados do que o nosso nos indicadores da qualidade da mesma democracia, limitam esses debates aos líderes dos principais partidos, aqueles que, teoricamente, têm condições de vir a liderar um Governo.

Os nórdicos, habituados como estão a ter Governos multicolores e primeiros ministros de agrupamentos políticos menores, promovem inúmeros confrontos entre partidos, seja através dos líderes ou através de representantes sectoriais.


Com a existência de oito partidos com representação parlamentar e dando-se relevância a um peso que verdadeiramente não têm, Portugal confirma, por acordo entre forças políticas e televisões, um vasto conjunto de confrontos.

É muito importante que assim seja. Muito mais do que as habituais arruadas, mercados e festanças de carne assada. Nestes debates cada eleitor pode confirmar a sua opção ou construí-la.

Não havendo nada a dizer, antes a apoiar, quanto ao número de debates, apareceram duas grandes questões que merecem uma análise. A primeira prende-se com o tempo de cada debate; a segunda é a do debate para além do debate.

O tempo em televisão é muito importante. Cada estação tem de gerir a sua grelha de acordo com os seus compromissos publicitários e tem que avaliar até que ponto os debates são relevantes para manter “em linha” os espectadores. É nesta relação que se encaixam os 30 minutos de cada encontro.

Os portugueses são, por natureza, prolixos. Uma ideia demora sempre mais tempo do que o necessário para passar. Ora, as televisões não têm culpa que os líderes partidários ainda não consigam a simplicidade da mensagem, que se envolvam em ideias complexas para cada resposta ou contraditório.

Mas as televisões fazem bem. Em 30 minutos pode dizer-se muito e os políticos vão ter de mudar o seu estilo para cumprirem as exigências da velocidade do mundo de hoje. Se assim fizerem também reduzem a probabilidade de erro, de frases ao lado que possam ser virais.

Será ainda muito relevante que as expressões, as formas de estar, a elaboração da imagem e as frases curtas usadas nos debates em menos de 15 segundos, sejam elementos valiosos, teasers e ideias que se passam nas redes sociais, que se transformam em likes, que se apresentam no TikTok, instrumento que ganha os jovens a cada dia que passa. Os partidos e os políticos tradicionais ainda têm medo deste novo e encantador universo.

A segunda questão é a do debate depois do debate. Os canais de informação precisam dos debates para criarem notícias para além deles. Ora, o que mais interessa é o que não foi esclarecido em cada contenda, o que cada líder deveria ter dito e não disse, o que cada partido já fez e agora contradiz.

Essas conversas, entre senadores da política e ilustres jornalistas, têm sempre, para além das avaliações escolares levadas para a televisão pelo Prof. Marcelo, o seu lado subversivo, até cínico, um alvo secreto a abater.

E é desse alvo que quero falar. Nestas eleições é Pedro Nuno Santos quem está na mira. Pode ganhar todos os debates por 100-0, mas nunca ganhará nenhum para os grupos de opinionistas que se foram construindo no Cabo.

Pedro Nuno parece ter três males: 1) o PS está há oito anos no poder e já cansou, o seu pessoal político não tem novidade e as ideias novas não aparecerem; 2) Pedro Nuno foi libero da Geringonça e ministro de uma maioria absoluta, sendo, à partida, o responsável por tudo o que, de mau, está a acontecer; 3) Pedro Nuno trata os comentadores por tu, dá-lhes importância e, como todos sabemos, a facilidade do trato e de acesso é também a facilidade do ataque e da menorização.

É este o lado da coisa mais parecido com o futebol. Afinal todos somos do Benfica, do Sporting ou do Porto, mesmo que não tenhamos clube. E quando comentamos o jogo não deixamos de aduzir os sonhos e interesses secretos de tiffosi.

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Opinião