Paris cercada

Findo o tempo das selfies e dos beijos e abraços ao povo que vota, também Emmanuel Macron, o presidente francês em último mandato, tem vindo a pôr o hexágono a ferro e fogo com as suas medidas impopulares, como, entre outras, a subida da idade da reforma para os 64 anos e com a sua inércia face aos agricultores, que se sentem esmagados pelas imposições da UE.

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  • 12:35 | Terça-feira, 30 de Janeiro de 2024
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É frequente vermos presidentes da república em fim de ciclo a porem de lado a máscara do sorriso afivelado durante anos e, decerto cansados do trejeito não natural, envergarem os verdadeiros rostos desprovidos da simpatia e distendidos no seu verdadeiro ricto.

Findo o tempo das selfies e dos beijos e abraços ao povo que vota, também Emmanuel Macron, o presidente francês em último mandato, tem vindo a pôr o hexágono a ferro e fogo com as suas medidas impopulares, como, entre outras, a subida da idade da reforma para os 64 anos e com a sua inércia face aos agricultores, que se sentem esmagados pelas imposições da UE.

No entreacto, Macron anda mais a primeira dama a vender charme pela Suécia, virando costas ao estado de cólera vivido no seu país, com a cidade de Paris quase cercada e milhares de tractores a bloquearem as principais vias de França, criando engarrafamentos enormes e intransponíveis.


A ausência de resposta aos mais elementares desideratos dos agricultores franceses, como o aumento dos combustíveis e dos impostos sobre o sector, foram deixados nas mãos do jovem primeiro-ministro recém empossado e de mãos manietadas, Gabriel Attal, que, perante a iminente “ Prise de L’Élysée”, para apaziguar e aplacar os exaltados ânimos, pouco mais vai fazendo do que criticar o polémico acordo de livre comércio ente a União Europeia e o Mercosul (1).

Esta reivindicação dos agricultores franceses, além dos inúmeros problemas causados à circulação nas autoestradas, a curto prazo poderá provocar uma situação de falta dos principais produtos alimentares nas principais cidades francesas, com pesados prejuízos económicos também para o trânsito internacional rodoviário, ali retido.

Entretanto, quando Macron chegar da Suécia irá encontrar-se com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na próxima 5ª feira. E até lá?

Entretanto, os cartazes empunhados pelos agricultores são esclarecedores:

“Notre fin sera votre faim” (O nosso fim será a vossa fome); “Macron, réponds!” (Macron, responde!); “Macron, le con” (Macron, o imbecil).

 

Em grande velocidade, para minimizar, o governo já propõe a descida do preço do gasóleo agrícola, indemnizações substanciais para os criadores cujos bovinos foram atacados pela doença hemorrágica epizoótica e pesadas sanções contra três industriais do sector agroalimentar que desrespeitaram a lei EGalim de 2018, que visa equilibrar as relações comerciais neste sector, incidindo sobre os preços, e sobre a alimentação saudável e sustentável.

 

(1) Bloco económico que tem o objectivo de fortalecer economicamente os países sul americanos como o Brasil, a Argentina, o Paraguai , o Uruguai, a Bolívia, o Chile, a Colômbia, o Equador, a Guiana, o Peru…  um mercado comum a funcionar numa zona de livre comércio sem os constrangimentos burocráticos que limitam o comércio para o exterior, nomeadamente para a Europa, entre outros.

 

(Fotos DR)

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Publicado em Opinião