As eleições legislativas, que o Presidente da República marcou para 10 de março, não serão disputadas entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, situação que pareceria lógica, uma vez que são os lideres dos dois grandes partidos do nosso sistema.
Se do lado do PS a contenda interna deu um novo folego e fez consolidar a posição de primeiro partido nas intenções de voto, do lado do PSD assistimos a uma total ausência de estratégia política, de uma constrangedora carência de um projeto para o país.
O PPD de Montenegro, olhando para a realidade que saiu das eleições de 2022 e para a vitória, em votos, que não em mandatos, do espaço conservador e franquista em Espanha, colocou a fasquia de tal forma alta que se vislumbra intransponível.
Luís Montenegro, ao dizer que não forma governo se o PSD, CDS e IL não tiverem a maioria absoluta de deputados no Parlamento, colocou-se de fora de uma solução que passe por outra maioria que vá da direita moderada ao ultramontanismo salazarista. Morreu antecipadamente!
Perante o cenário de uma maioria absoluta das direitas somadas, poderíamos ter Luís Montenegro a virar o bico ao prego, convocando um congresso e dizendo que o partido o obrigou a aceitar o encargo, mas esse preço seria muito alto e Portugal teria um primeiro-ministro extremamente frágil numa altura muito difícil. Porém, o PPD aceitará sem pestanejar o encargo de formar governo com outro chefe que apareça do passado, mandando porta fora o líder que não soube sê-lo.
Temos, portanto, uma eleição em que o líder do maior partido da oposição se apresenta como uma não solução, uma realidade próxima em que, fruto de uma construção parlamentar menos sólida do que a que agora termina, deixará o Presidente sem margem de manobra.
Apressar-se-ão os comentadores a justificar essa possível solução externa com a geringonça de 2015. Será um atrevimento. Tudo porque o que aconteceu em 2015 foi o jogo democrático em que os deputados eleitos se valorizaram por igual, e dos acordos entre partidos, que defendem o património constitucional atual, nasceu um entendimento parlamentar que vigorou, de formas diferentes, durante seis anos.
O país vai estar metade do ano de folga porque há eleições em março. Poderá estar mais meio ano com um governo provisório se houver uma maioria de eleitos à direita do PS e com o Chega a obrigar a outro chefe de Governo. No final teremos eleições legislativas, de novo, em meados de 2025, para que o país possa legitimar esse líder de recurso. E autárquicas no segundo semestre e ainda presidenciais em 2026. Que grande folclore de eleições, Prof. Marcelo. Vossa Excelência vai ser conhecido, pela História, como pirómano da democracia de Abril, exatamente quando esta chega ao meio século.
Ao PS só interessa um caminho de prudência. Até porque Pedro Nuno Santos é mais competente, mais solidário e mais influente do que o seu opositor direto atual (JN, 31.12.2023).
E interessa falar pausado, simples e sem ardil argumentativo. Os portugueses vão valorizar muito a sinceridade e a proximidade com que se lhes dirigem. Andar paulatino, discurso simples e sorriso de confiança são as marcas dos dois meses que faltam.