Os empecilhos da maioria absoluta

Chamou “empecilhos” aos partidos que lhe deram maioria parlamentar e quando estes, face à arrogância do governo, não transigiram na defesa do SNS (como o futuro lhes deu razão!) e de uma divisão mais justa da riqueza, Costa arriscou repetir o jogo eleitoral, acabando com uma maioria absoluta.

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  • 13:30 | Quinta-feira, 16 de Novembro de 2023
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António Costa, considerado um grande jogador, rasteirou um seu colega de equipa que de seguro tinha pouco, lançou-se ao ataque, mas não conseguiu marcar e quando já tinha o jogo perdido, eis que Catarina e Jerónimo, numa jogada de mestre, fizeram uma tabelinha, meteram-lhe a bola nos pés e ele marcou o golo que lhe deu a vitória.

Ficou provado que o jogo de equipa sempre resulta melhor do que as habilidades de um só craque. Mas Costa, armado em vedeta, não aguentou por muito tempo ter de passar a bola para a esquerda, optando por jogar ao centro, com resvaladuras pela direita.

Chamou “empecilhos” aos partidos que lhe deram maioria parlamentar e quando estes, face à arrogância do governo, não transigiram na defesa do SNS (como o futuro lhes deu razão!) e de uma divisão mais justa da riqueza, Costa arriscou repetir o jogo eleitoral, acabando com uma maioria absoluta.


Agora, quando a maioria absoluta tropeçava em “casos e casinhos”, com sucessivas demissões de ministros e secretários de Estado, e tornava evidente a arrogância absoluta, surge esta “operação influencer”, um “tiro no porta-aviões” governamental que mais parece “um tiro no escuro” do Ministério Público (com má pontaria e má audição nas escutas) que poderá não passar de “um tiro na água” da corrupção, para além do “tiro no pé” de Mário Centeno e do “tiro de pólvora seca” de Costa nos seus “falsos amigos”.  

Para já, afinal, não há acusações de crimes de corrupção, apenas do crime de “tráfico de influência”, por parte dos políticos, e de “oferta indevida de vantagem quanto a titular de cargo político agravado”, dos administradores da Start Campus.

Uma coisa é certa: Costa, afinal, tinha os verdadeiros “empecilhos” dentro do próprio governo e na sua casa oficial, onde alojara um amigo menos solidário do que o de Sócrates.

Nada de novo: é a velha política do rotativismo do Bloco Central (PS e PSD), com o seu clientelismo e promiscuidade com interesses privados, a economia de favores (“facilitação”) e portas-giratórias entre os governos ou autarquias e as empresas e grupos económicos, sob o argumento (invocado por Costa) dos projectos de interesse nacional.

Em 2021, o Bloco de Esquerda levou ao Parlamento propostas de alteração à lei das minas (proibição de novas minas em áreas protegidas, aumento da distância mínima para populações e que a Avaliação de Impacto Ambiental fosse feita antes dos contratos de concessão), com o deputado  Nelson Peralta a acusar o ministro Matos Fernandes e João Galamba de criarem uma lei que abriu um regime de “bar aberto”, em que se permite aos interesses privados, com um jeitinho, o que é proibido na defesa do Ambiente, das populações e do país.

Este descrédito paulatino do regime democrático, que abre as portas à demagogia populista da extrema-direita com o rabo fascista de fora, só poderá ser revertido, agora, nas vésperas do 50º aniversário do 25 de Abril com políticas sérias que cumpram e respeitem a Constituição de Abril, na defesa do SNS, da Escola Pública, da Habitação, dos salários e pensões dignas.

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Publicado em Opinião