A crítica é, frequentemente, uma força com poder. Uma força poderosa, demolidora. Um bom motivo para o poder, seja lá onde for, se for esclarecido e diligente, não a dispensar. Mesmo que seja incisiva, forte e dura. Por vezes, injusta, inoportuna, inconveniente.
Podia debitar, aqui, uma série infindável de razões sobre a necessidade e a imprescindibilidade da crítica para o exercício responsável e maduro do poder. Por agora, fica só o alerta à navegação e à tripulação. Aos navegantes, aos tripulantes e aos andantes. E aos falantes.
Discordar é um direito que assiste a qualquer um, é sinal de autenticidade e de verdade. E de maturidade. Infelizmente, nem tantos estão preparados para gerir sensibilidades, construir pontes, ouvir críticas e conviver com oposições. É que isto era tudo muito mais fácil, e mais certo, se todos abanássemos a cabeça como os cães de loiça. Uns tantos, bem identificados, não são democratas. Estão democratas, por viverem em democracia, coisa bem diferente de serem democratas. Falta-lhes, para isso, a grandeza do reconhecimento da sua pequenez. E a sua pequenez varia na razão directa da arrogância que transportam e da intolerância que alimentam. Confundem poder com abuso, misturam amizade com dependência, albardam a vontade dos outros à vontade do dono, isto é, à sua vontade.
Numa sociedade cada vez mais consumista, temos uma vida marcada, em excesso, por padrões materiais, tornamo-nos objectos e máquinas, triturados pela roda da vida. E depois sobra-nos pouco tempo para ouvirmos os outros e escasseia a vontade para os compreender. Acresce a tudo isto, que, por deformação, julgamos que o silêncio é o preço que temos que pagar pelo bom relacionamento. Mas não é. E depois anda por aí tudo açaimado, calado, a remoer.
Temos que abolir esta mentalidade, com um esforço renovado e volumoso. O progresso e o desenvolvimento são grandes desígnios, só possíveis e alcançáveis, se formos abertos, tolerantes e inclusivos. Se nos aceitarmos e nos escutarmos. Com respeito, tolerância e dignidade. É que nisto de saber estar, uns beberam o chá e outros herdaram os bules.