Foi recentemente notícia, obliterando dos escaparates um naufrágio no mediterrâneo que terá vitimado cerca de 600 seres humanos, 100 deles crianças, o caricato episódio que vitimou quatro privilegiados e o piloto de um submersível manhoso onde escolheram livremente fechar-se.
É quase impossível não estabelecer uma série de paralelismos entre estes decisores, gente abastada, influente e influenciadora, que no dia-a-dia impactam com muita gente e com muitos recursos naturais (que deviam ser de todos) e o seu próprio destino.
Este triste e trágico episódio é também uma espécie de metáfora para o que está a acontecer à Terra (o planeta). A busca pela exclusividade, pela unicidade, pelo desejo de ostentar um conjunto de “medalhas” ou “carimbos”, de terem feito o que poucos fizeram, levou-os à vulgaridade de tudo arriscar em troco de quase nada e expôs a sua soberba e pouca clarividência.
Escolheram visitar, sem condições mínimas de segurança, ver os destroços afundados de uma máquina que, na altura da sua construção, foi vendida como expoente tecnológico, indestrutível, e que também demonstrou a pequenez e a simbiose indeslaçável face à Natureza.
Para salvar quem foge à miséria, miséria muitas vezes potenciada pela acção de pessoas das do género que se meteram naquele batiscafo, não vemos nós gastar recursos públicos. Nem recursos nem tempo mediático (que também é precioso).
Assim está o Planeta, refém dos caprichos dos que tudo têm e tudo querem (fazer), viagens ao espaço, ao fundo dos mares, etc., sem que, nestes casos, se coloque o “problema” da pegada ecológica, da “descarbonização”, do aquecimento global, blá, blá, blá.
Sendo uma ínfima parte da população mundial, provoca e induz estragos superiores a qualquer outro grupo. Estes, acabaram sem ar para respirar. O mesmo a que nos arriscamos todos se continuarmos acriticamente a fazer e deixar fazer as coisas da maneira que vemos.