Ronaldo

A RTP foi atrás do suposto escândalo, querendo cavalgar as audiências, sendo que, nessas duas noites, conseguiu arrasar. Mas esse não deve ser o caminho, nem o objectivo de um canal cuja principal preocupação deve ser informar e formar. Não foi o caso. E o dinheirinho do povão não é para ser desbaratado desta forma tão inglória e vaga.

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  • 15:57 | Segunda-feira, 21 de Novembro de 2022
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Precisei de me sentar três vezes, arejar a sala, apesar do frio, e tirar a remela dos olhos. E tudo isto para confirmar que a RTP tinha pagado 50.000 € para transmitir na íntegra a entrevista que Cristiano Ronaldo concedeu, a seu pedido, a Piers Morgan, no programa “Piers Morgan Uncensored”, canal e rádio “TalkSport”, com reprodução no jornal britânico “The Sun”.

 


 

Sou fã de Ronaldo e defensor de que ele é o maior e o melhor de todos os tempos. E ainda por cima com sangue sportinguista, como atesta a D. Dolores.

Cristiano falou sem filtros. Destratado pelo clube que representa, forçou a nota e carregou nas tintas, porque quer sair e deve estar farto. Um astro da sua dimensão pode dar-se ao luxo do inimaginável. Mas foi um risco, fazê-lo às portas do Mundial, com o grau de incerteza de que inevitavelmente se reveste a prestação futebolística de Ronaldo, já nos 37 anos. Mas não é essa questão que aqui me traz.

Chego-me hoje a esta coluna, brandindo a minha incredulidade, face ao gasto de dinheiro da RTP para garantir em exclusivo uma entrevista que, espremida, pouco teve de sensacional. Para lá de desqualificar os patrões do clube, de desvalorizar o treinador e de elogiar Messi, nada mais por aí além.

A RTP, obrigada ao serviço público, não creio que o tenha cumprido com esta entrevista. E, ainda por cima, gastar dinheiro com um produto que qualquer um pode ver, legendado, no “You Tube”, na esplanada de um café, num transporte público ou numa paragem de autocarro, parece-me um desperdício bem evitável e uma visão um tanto vesga do que é o interesse público. Uma entrevista, por estas razões, e a pagar, não é de certeza.

Que outros canais o tivessem feito, era uma questão dos seus donos, mas da RTP, que, a bem ou a mal, todos ajudamos a pagar, o critério devia, e deve ser, mais fino.

A RTP foi atrás do suposto escândalo, querendo cavalgar as audiências, sendo que, nessas duas noites, conseguiu arrasar. Mas esse não deve ser o caminho, nem o objectivo de um canal cuja principal preocupação deve ser informar e formar. Não foi o caso. E o dinheirinho do povão não é para ser desbaratado desta forma tão inglória e vaga.

 

(Foto DR)

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Publicado em Opinião